Christian Gurtner

5 de fev de 20095 min

As placas Toynbee

Atualizado: 5 de dez de 2020

Um pequeno (ou seria grande?) mistério ronda as américas desde os primeiros anos da década de 90: Trata-se das Placas Toynbee (Em inglês Toynbee Tiles), que são pequenas placas contendo estranhas mensagens que foram surgindo gradativa e misteriosamente nos asfaltos de avenidas movimentadas.

Com uma misteriosa mensagem, um autor obscuro e referências intrigantes, essas placas têm deixado alguns aficcionados eufóricos.


Tudo começou quando transeuntes passaram a notar o surgimento de pequenas placas cravadas nas avenidas da Filadélfia. Ninguém sabia como eram colocadas, por qual motivo e por quem. O conteúdo das placas aumentava mais ainda o mistério, já que gerava referências a mais mistérios. Acompanhe:

As Placas

Feitas de material indeterminado, elas aparentemente são fabricadas de forma manual, cortando o material para formar as letras e colocadas sobre ruas recém asfaltadas para que a placa seja cravada no chão (Alguns dizem que existe uma técnica em que o asfalto não precise estar “fresco”, e que basta fixá-la com cola forte e o peso dos automóveis faz o resto).

A Mensagem

A maioria das placas trazem basicamente a mesma mensagem:

Toynbee idea in Kubrick´s 2001 ressurrect dead on planet Jupiter

O que significa em português (aprox.): A idéia (de?) Toynbee em 2001 de Kubrick (ou “filme 2001” em algumas placas) ressucita morto(a?) no planeta Júpiter. Em algumas placas, a palavra “Kubrick” é trocada por “Movie”

Uma placa, aliás, foi encontrada no Rio de Janeiro, com os dizeres:

Toynbee idea in cine’ 2001 resucitar morto sul planet Jupiter

(sic)

Os erros e péssima tradução dessa placa, sugerem que além de ter vindo até ao Brasil, o autor das placas não sabia falar português. Outras placas foram encontradas no Rio mas já foram destruídas (voltaremos a isso em breve).

Algumas placas, além da mensagem principal, contêm também outras mensagens em letras menores, todas hostilizando os jornalistas, com dizeres como “Matem todos os jornalistas por favor” ou “Espalhem essas placas, a mídia americana está aliada com os soviéticos”.

As localizações

Foram encontradas placas em várias cidades dos EUA, em Santiago (Chile), Buenos Aires (Argentina) e Rio de Janeiro (Brasil).

O original e os copycats

Após o surgimento das primeiras placas e em seguida com o crescimento e a acessibilidade da internet — e consequentemente a disseminação rápida de notícias, outras placas com dizeres um pouco diferentes, forma e fontes também diferentes, sugerem que imitadores continuaram o trabalho do autor original.

No início as placas eram praticamente idênticas, diferenciando-se unicamente por cores ou mensagens “extras”. A semelhança da placa carioca com as originais americanas, mostra que provavelmente trata-se do mesmo autor (que viajou bastante para pregar suas placas).

Por isso continuaremos daqui ignorando as placas mais modernas e focando exclusivamente nas prováveis originais encontradas nos anos 90.

As primeiras placas

Os primeiros registros de placas encontradas, datam de 1993, mas é muito provável que já tenham sido cravadas ainda nos anos 80 e continuaram surgindo até alguns anos depois de 1990.

A ligações e as referências

As mensagens claramente fazem referência à Toynbee e ao filme 2001, Uma Odisséia no Espaço (Maravilhosa obra de Stanley Kubrick, baseada nos escritos de Arthur C. Clarke). A referência sobre ressurreição de mortos no planeta Júpiter, pode nos levar também ao filme 2001 (lembram da missão para Júpiter?), mas também pode fazer referência à coisas mais intrigantes que veremos mais à frente.

Mas voltemos ao início: Toynbee? Provavelmente trata-se de Arnold J. Toynbee (1889 +1975), um historiador que divulgou teorias relativamente curiosas sobre o nascimento e queda das civilizações. O historiador pode ser facilmente ligado ao filme de Kubrick. Veja algumas de suas teorias:

“As chances de sobrevivência da raça humana eram bem maiores na época em que éramos indefesos contra tigres do que hoje, que somos indefesos contra nós mesmos”

“Civilizações morrem por suicídio e não por assassinato”

“Eu não creio que as civilizações têm que morrer, pois não são organismos e sim produtos de desejos”

As pistas, suspeitos e suas possíveis inspirações

Quem e por quê? Perguntas até hoje sem respostas. Mas que tal desenterrarmos algumas obras dos anos 80, como Goldberg Street (publicado anos antes da primeira placa ser encontrada) onde David Mammet em uma de suas peças escreveu o seguinte diálogo:

Entrevistador: Olá, você está no ar.
 
Ouvinte: Olá, Greg, como vai você?
 
Entrevistador: Estou bem.
 
Ouvinte: Que bom. Greg, é um prazer falar com você…
 
Entrevistador: Qual o seu problema?
 
Ouvinte: Greg, nós precisamos de ajuda para divulgar seu plano. Nós estamos tentando unir nossa organização e conseguir levantar dinheiro para contratar uma firma de relações públicas como a Wells and Jacoby para divulgar nossa organização (PAUSA). Aonde nós vamos ARRUMAR o dinheiro …?! Eu não sei…
 
Entrevistador: Para divulgar sua…
 
Ouvinte: No filme 2001, baseado nos textos de Arnold Toynbee, eles falam sobre o plano…
 
Entrevistador: Perdão, perdão, mas o filme 2001 foi baseado nos textos de…
 
Ouvinte: …toda vida humana é feita de moléculas…
 
Entrevistador: …foi baseado nos textos de Arthur C. Clarke…
 
Ouvinte: Toda vida… não, Greg, se você examinar…
 
Entrevistador: … ele foi baseado nos textos de Arthur C. Clarke…
 
Ouvinte: Oh, Greg, não. Nós temos a …
 
Entrevistador: Bom, continue.
 
Ouvinte: … nós temos os textos.
 
Entrevistador: Tudo bem, continue.
 
Ouvinte: Greg. Nos textos de Arnold Toynbee ele discute uma peça aonde toda a vida humana poderia ser facilmente reconstituída no planeta Jupiter.


Seria o autor um suspeito? Ou sua peça uma inspiração para o autor das placas? Ou a coisa vai mais longe ainda e se une à outras pistas? Vejamos então a publicação The Toynbee Convector.

The Toynbee Convector, de Ray Bradbury, é uma história de ficção científica publicada mais ou menos no ano em que presume-se que as placas começaram a surgir (suspeito, não?). A obra fala de viagens no tempo, humanidade e civilização (conectando-se às idéias de Toynbee sobre as civilizações, razão do título do livro).

Seria Ray o autor das placas ou somente outra inspiração?

Tudo indica que o autor das placas era da Filadélfia, e para fortalecer essa suspeita, numa das placas que apareceram no Rio de Janeiro, havia -além da mensagem principal- uma mensagem pedindo para escrever para um endereço na Filadélfia, EUA:

Escriva: Toynbee A, 2624 S. 7th Street Phila, PA, 19148–4610, USA

Para surpresa de muitos, o endereço era autêntico. Várias pessoas foram até o endereço informado nessa placa, mas não eram atendidas. Uma vizinha afirmou que o proprietário da casa não falava com ninguém, mas também disse ser pouco provável que ele fosse o autor das placas Toynbee.


Ninguém sabe. Mas muitos dedos têm sido apontados para um outro homem, chamado James J. Morasco.

Morasco, da Filadélfia, é o principal suspeito por causa de uma entrevista que ele deu em 1983 para um jornal local, onde ele afirmava que Júpiter poderia ser colonizado enviando as pessoas mortas da Terra para lá, para que assim eles ressuscitassem (doido varrido?).

Quando tentaram contactar Morasco, em 2001, por telefone, sua esposa afirmou que um câncer tinha destruído suas cordas vocais e ele não podia falar. Mas insistiu que seu marido não sabia nada sobre as tais placas. Em 2003 Morasco morreu.

E o mistério continua…

    1240
    2