Christian Gurtner

7 de jun de 20212 min

O que realmente amamos?

Na obra "Quando Nietzsche chorou", de Irvin Yalom, o personagem Nietzsche mostra uma visão interessante sobre o objeto de nosso amor. Tão interessante que hoje colocam essas palavras na boca do Nietzsche real:

Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todo amor é amor próprio. Pense naqueles que você ama: cave profundamente e verá que não ama à eles; ama as sensações agradáveis que esse amor produz em você! Você ama o desejo, não o desejado.

- Irvin Yalom

Mas essa afirmação não é totalmente fictícia. O autor, de fato, usou aforismos de Nietzsche para esse trecho. Na obra "Além do bem e do mal" o filósofo diz:

No fim das contas, uma pessoa ama os próprios desejos e não aquilo que é desejado

- Friedrich Nietzsche

Mas o desejo como pivô do amor já fora citado muito antes: no "O Banquete", escrito por volta de 380 a.C., Platão coloca o desejo como parte do mecanismo do amor. Amamos o que desejamos e desejamos o que não temos.

No fim tudo se resume a nós. Amamos aquilo que sentimos diante de uma outra pessoa. O resto é algo mecânico e que requer esforço e construção nossa. Algo como "Você me faz bem. Então isso é o amor. O resto preciso construir por conta própria para criar essa relação que, muito tempo depois chamarei de amor total". A única coisa do amor que está fora de nosso controle é o "você me faz bem" e se isso acontece, aí está o amor. O resto temos que criar, superar, investir e cultivar.

Lacan também bebericou em Platão quando afirmou que "amar é dar o que não se tem, a quem não o quer". Lacan partia do principio que a vida se baseia na falta. E é justamente pela falta que existe o desejo. A tudo nos falta, a tudo desejamos. Assim inunda a filosofia oriental com seus aforismos para a felicidade: se nos contentamos com tudo que temos, não desejamos mais nada, não nos falta mais nada. Somos felizes.

"Você me faz bem". É tudo que você terá do amor. O resto você constrói. Não é fácil. Mas é exatamente por isso que:

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal

- Friedrich Nietzsche

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