Blumenau, aqui estou!
A cerveja, a beleza, o calor, a chuva e a cultura germânica — que, mesmo com os horrores trazidos pelo nacionalismo de Vargas para impedir que os imigrantes mantivessem sua identidade, continua presente em cada esquina — nos recebem nessa época de Oktoberfest.
Se não entendeu nada do que mencionei acima, talvez seja hora de ouvir a minissérie que produzi sobre a imigração alemã no Brasil: é o podcast Auslander, que você pode ouvir aqui.
Mas, voltando ao cerne, Blumenau, fundada em 1850 pelo farmacêutico e filósofo Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, surgiu como um projeto de colonização particular às margens do rio Itajaí. Sim, particular: o Dr. Blumenau arrumou alguns outros malucos para essa empreitada de se enfiar nas matas e erguer uma colônia. A colônia prosperou e muitos outros imigrantes vieram, transformando a região num polo de desenvolvimento, inicialmente focado na agricultura e, mais tarde, na indústria têxtil e cervejeira (ainda bem), moldando a identidade que a cidade tem hoje.
Enquanto a colônia do Dr. Blumenau ainda era um monte de mato, na Baviera alemã, acontecia uma festa que viria a se tornar uma das mais conhecidas do mundo. Quase meio século antes de Blumenau, o Rei Ludwig I realizou seu casamento, organizando uma grande festa que durou dias. Nessa festa, toda a população pôde encher a cara e assistir a atrações como corrida de cavalos e muita música.
Sim. A Oktoberfest foi uma festa de casamento.
Imagine fazer uma festa de casamento tão boa que o povo decide continuar comemorando seu casamento todo ano para sempre?
Já no Brasil, junto com os imigrantes, veio também a festa. A primeira Oktoberfest do Brasil aconteceu em Itapiranga, SC. E a de Blumenau, que se tornaria a maior Oktoberfest fora da Alemanha, só começaria em 1984. O motivo era tão grandioso quanto a própria celebração: reerguer o ânimo da cidade após a devastadora enchente de 1983, que atingiu o Vale do Itajaí de forma avassaladora e deixou grande parte do município debaixo d’água por semanas, desalojando milhares de famílias e causando prejuízos incalculáveis. A cidade estava literalmente no fundo do poço, e a iniciativa de criar a Oktoberfest em 1984 foi um audacioso e necessário plano, uma forma de trazer de volta a alegria, a união e o ânimo para os moradores.
Parece que deu certo.
Hoje, a Oktoberfest de Blumenau é a segunda maior do mundo, atrás apenas da de Munique, na Alemanha (e a nossa acontece em outubro, fazendo jus ao nome, viu Munique?). Anualmente, o evento atrai mais de meio milhão de visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo, que se reúnem nos pavilhões do Parque Vila Germânica (que é um lugar incrível) para celebrar a cultura germânica com muita música, danças folclóricas, gastronomia típica e, obviamente, cerveja. A festa que era pra alegrar o povo depois de uma tragédia é, hoje, ironicamente, um dos pilares da economia local.
A cultura germânica, tão combatida por Getúlio nos anos de guerra, continua viva e forte, sendo reafirmada todos os anos na Oktoberfest.
Venham. Prost!





