Hoje, eu inventei a fotografia. É claro que não inventei na forma de “pela primeira vez na história alguém desenhar com a luz” (afinal, essa é a etimologia da palavra: do grego Phos, luz, e graphé, desenho), mas tive um vislumbre de como essa ideia surgiu na cabeça dos humanos.
Minha cortina blackout está velha e acabou ficando com um pequeno furo bem no meio. Ainda na cama, nessa manhã, a luz penetrou esse furo e projetou em minha parede aquilo que poderia ser somente um facho de luz falho. Não era um facho falho, era uma foto.
Obviamente, eu rotacionei e inverti a foto para que ela mostrasse a vista real. Para quem não passou pela escola e, por algum milagre, consegue ler e entender este texto, a foto é uma projeção de luz que, ao atingir a superfície por trás do orifício por onde entrou, está invertida. Vamos fazer melhor, tome este desenho:
Acho que assim está mais claro. Então, veja agora a projeção sem edição que eu estava vendo na parede:
A seguir, novamente, a imagem depois de eu rotacioná-la e invertê-la:
E, por fim, uma foto direta do que essa minha arcaica “câmera fotográfica” estava captando:
Não é à toa que, por muito tempo em nossa história, a filosofia e a ciência eram a mesma instituição de conhecimento e pesquisa: observar, experimentar, repetir e teorizar. Ter um simples vislumbre como o que tive nos ajuda a ver a história e o avanço humano com os olhos dos pioneiros.
Alguém, um dia, diante de uma projeção dessas, pensou que, talvez, seria possível registrá-la numa superfície sem o uso de pincéis, lápis ou carvão. Quem sabe numa placa de estanho embebida no betume? E assim temos a mais antiga foto tirada pelo homem. É de autoria de Joseph Nicéphore Niépce, em Saint-Loup-de-Varennes, e mostra a vista da janela de sua propriedade:
Há também algumas invenções que tenho muita curiosidade de saber o que se passava na cabeça da primeira pessoa, como a que achou uma boa ideia chuchar comida num ganso até o fígado dele aumentar dez vezes e, então, retirá-lo como uma iguaria (li uma vez que, apesar do nome francês, o foie gras tem suas origens no Egito Antigo).
Mas, independentemente do quão estranha possa parecer a origem de algo, tudo que chegou até nós foi observado, experimentado e repetido. O que não deu certo teve seu caminho interrompido e, para todo o resto, temos o fruto da nossa sensibilidade de observar os detalhes.
E assim observamos, experimentamos, testamos, avaliamos, concluímos e começamos um novo ciclo de melhoria e aperfeiçoamento. É a ciência sendo usada como ferramenta de aprendizagem.