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  • Foto do escritorChristian Gurtner

Amor


O veneno, a história, a mitologia e a poesia. Algumas visões sobre o amor.

Esse episódio faz parte dos fantásticos podcasts mais antigos do Escriba Cafe que, por questões de direitos autorais, não estão disponíveis para download nem pelo feed, Spotify, etc, (nem mesmo pelo player fixo no site) sendo possível ouví-los somente pelo player no respectivo post.

TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)


Ler a transcrição completa do episódio


De todas as tentativas de explicação, somente uma me convenceu.

Soneto 116, de William Shakespeare:

De almas sinceras a união sincera Nada há que impeça. Amor não é amor Se quando encontra obstáculos se altera Ou se vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, Que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante Cujo valor se ignora, lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora Seu alfanje não poupe a mocidade; Amor não se transforma de hora em hora, Antes se afirma, para a eternidade. Se isto é falso, e que é falso alguém provou, Eu não sou poeta, e ninguém jamais amou.

Tempo de amar

Entendo o amor como um ser à parte. Um animal que reside dentro de nós. Dono de seus próprios desejos e que, quando alimentado, é capaz de nos dominar completamente, tomando o controle de nossos corpos e de nossas vidas.

Por isso, não enxergo o amor como muitos pregam: Aquela coisa bonita, pura e perfeita.

O amor é um complexo de sentimentos, defeitos e qualidades. Essas características, quando estimuladas, se tornam gigantes, potentes e, muitas vezes, terríveis.

Só quem ama é capaz de sentir a alegria extrema, a paixão extrema, mas também, muitas vezes, o ódio infernal que queima todas as artérias e torce todos os músculos.

O amor é essa criatura. Quando recebe afagos se torna feliz, quando é ignorada se sente triste e quando é ferida, pode se tornar uma besta apocalíptica.

O amor é amplo, abrangente, muitas vezes paradoxal. Mas é sincero, impulsivo e selvagem. O amor é a única forma de sentir a plenitude da vida.

Mas, por trás de qualquer explicação minha ou de outros, por trás de qualquer definição científica ou esotérica, sempre haverá o mistério, pois, acima de tudo, isso é o amor: Um monte de reações físicas e químicas, mas que se resumem num eterno mistério de nossa existência.

Eros e Psique

Sempre que o assunto é o amor, me recordo do mito de Eros e Psique.

Psique era uma jovem mortal que, de tão bela, começou a ser cultuada como deusa. Tal circunstância acabou despertando a ira de Afrodite, deusa do amor e da beleza, pois seus adoradores deixavam de ir aos seus templos para adorar Psique.

Em resposta, Afrodite delega a seu filho Eros, deus do amor, a tarefa de punir Psique.

Armado com arco e flechas envenenadas, Eros invade o quarto de Psique durante a noite e a encontra dormindo. Ao se aproximar, ele olha para ela e se apaixona subitamente, decidindo por conta não matá-la.

Furiosa pelo plano frustrado, Afrodite lança uma maldição determinando que Psique jamais se casasse. Assim, apesar de toda beleza e adoração, ela ficou solitária, uma vez que nenhum homem se aproximava dela.

O pai de Psique fica preocupado e vai ao Oráculo. Mas esse, já instruído pelo apaixonado Eros, diz ao pai que os deuses ordenavam que Psique fosse largada sozinha, vestida de luto no alto de uma montanha.

Triste, o pai obedece.

Psique, solitária na montanha, achou que aquele seria o seu fim. Contudo, o vento a pegou nos braços e levou-a para um enorme palácio onde lhe fora dito que ali ela se casaria.

Durante a noite Eros foi visitá-la em seu novo quarto. Usando um capuz, ele informou que só casaria se ela concordasse em jamais ver o rosto dele.

Eros fez isso para manter o casamento em segredo de sua mãe.

Psique viveu dias maravilhosos e amava seu misterioso marido e seu casamento.

Contudo, as irmãs de Psique, com inveja, disseram-na que talvez o marido fosse um monstro, por isso escondia o rosto. Insistiram que ela deveria, durante a noite, levar um punhal, uma vela e tirar o capuz do marido. Se ele realmente fosse um monstro, ela deveria apunhalá-lo.

Convencida pelas irmãs, Psique resolve fazer o que elas sugeriram. À noite, armada com o punhal e iluminando com a vela, ela tira o capuz de Eros durante o sono e se admira, apaixonando-se ainda mais. Ela observa o marido, um ser extremamente belo. Sem notar, uma gota de cera cai no peito de Eros, acordando-o. Enlouquecido pela traição, ele foge gritando repetidamente: O amor não sobrevive sem confiança!

Psique desmaia e quando acorda na manhã seguinte, tudo havia sumido, até o palácio.

Desde então, Psique passou a vagar triste e solitária em busca de seu marido. Seu arrependimento, a fez tentar se afogar no rio, mas o rio a jogou para fora. Uma divindade, então, aconselhou a Psique que fosse conversar com Afrodite. Que pedisse a ela para intervir na reconciliação.

Ao chegar no palácio, Psique informou suas intenções à Afrodite. A deusa deu uma gargalhada e disse à bela jovem que para reconquistar o amor de Eros, ela teria de passar por quatro provas: Entrar em uma sala repleta de grãos variados e separá-los até o final do dia; em seguida, deveria buscar um punhado de lã de ouro de ovelhas ferozes e violentas; depois encher um vaso de cristal com a água negra de uma cascata localizada na mais alta montanha; e por fim, descer no inferno e buscar um pote contendo a poção da beleza.

Embora as provas fossem praticamente impossíveis, Psique, depois de muito custo, com ajuda de animais e divindades, consegue cumprir todas. Porém, logo após ter conseguido o pote com a poção da beleza, antes de levá-lo à Afrodite, ela resolve pegar um pouco para si, na esperança de ficar ainda mais bela e Eros se apaixonar novamente por ela. Ao abrir o pote, de lá, sai o sono profundo, que faz Psique cair adormecida e assim, ficar para sempre.

Esse seria o fim de Psique, mas seu amor sempre fora correspondido. Eros a amava. Desesperado com a situação, ele pede a Zeus que impeça Afrodite de continuar com a perseguição. Zeus, então, reúne todos os deuses para uma assembleia. De tal forma, eles decidem que Eros deve se casar com Psique e, por razão, morarem juntos no Olimpo. Afrodite concorda com a decisão, pois assim, Psique deixaria a terra e os homens voltariam a adorar a deusa da beleza.

Eros vai até a adormecida Psique e a desperta com a ponta de uma de suas flechas e os dois se casam.

Eros também é conhecido no panteão romano como Cupido.

O que é amor

Na Wikipedia ele é definido da seguinte forma:

A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.

No dicionário Priberam da língua portuguesa, as definições são:

1. Sentimento que induz a obter ou a conservar a pessoa ou a coisa pela qual se sente afeição ou atração;

2. Paixão atrativa entre duas pessoas;

3. Afeição forte por outra pessoa;

4. Ato sexual;

5. Brandura, suavidade;

6. Paixão ou grande entusiasmo por algo.

Muito científico não? Talvez seja por isso que a poesia, os livros, a arte e a música foram os que mais chegaram perto, não digo da verdade, mas daquilo que realmente sentimos.

That’s Amore

Quando a lua atinge o seu olho, como se fosse uma enorme pizza, isso é amor.

Quando o mundo parece brilhar, como se você tivesse bebido vinho demais, isso é amor.

Os sinos vão tocar, você vai cantar “Que vida bela”, seu coração vai bater como se fosse uma alegre tarantella.

Quando as estrelas fazem você babar como um macarrão, isso é amor.

Quando você dança na rua com uma nuvem em seus pés, você está apaixonado.

Quando você entra em um sonho, mas você sabe que não está sonhando, me desculpe, mas isso é amor!

O fim do amor

E quando o amor acaba? Mas ele acaba? Nunca. Na minha humilde opinião, amor que acaba é o amor que nunca existiu. Mesmo os casais que se separam, podem estar se odiando, mas o amor continua. Aqueles que realmente amam, vão levar esse amor até a morte, juntos ou separados.

É por isso que o mundo está cheio de profissionais especialistas nisso ou naquilo. Terapia de casal, artigos em revistas e várias outras tentativas de explicar o inexplicável. Isso só serve para provar que quem precisa disso é quem não ama e que quem não ama, não tem nenhum motivo para precisar disso. Afinal, pra quê? Bem, talvez para tentar começar a amar.

Mas uma coisa é certa: esse bicho chamado amor também serve como um amplificador orgânico. Se a pessoa é ciumenta, quando ama pode ter seu ciúme ampliado ao ponto de matar por isso.

O amor pode ser uma dádiva, pode ser uma doença, mas pode ser também uma cura. E o amor também pode se inundar com o mais profundo ódio.

A traição, muitas vezes, é o principal motivo. Ser traído por qualquer pessoa causa a frustração e o desprezo. Mas quando se é traído pela pessoa que se ama, de acordo com psiquiatras, o que pode surgir inicialmente é um choque, todo um sentimento de fracasso, de tristeza profunda e depressão.

Mas todos esses sentimentos só preparam as pessoas traídas para o que vem a seguir, quando a razão começa a conversar com o coração. Aí surge o maior ódio já conhecido: O ódio de quem ama. E as trevas tomam conta do corpo e da alma da pessoa… a vingança se torna a lei.

Por isso, digo que não há pessoa nesse mundo que consiga ou que um dia conseguirá explicar o amor. Pode-se chamar várias coisas de amor e, por isso, esses amores acabam, ou são doentios, ou seja lá o que for.

Traição

A traição sempre foi considerada por muitos o pior ato que um ser humano pode cometer. Tanto que até pouco tempo atrás no Brasil, a traição conjugal era crime. Na época do velho testamento, adúlteras eram apedrejadas, mas apesar de tudo, sempre houve o lado machista onde a pena para os homens adúlteros era mais branda ou nula.

E não devemos nos conter só no lado conjugal. A traição no mundo sempre foi vista como um dos atos mais graves e covardes em qualquer contexto.

Na maioria dos países, trair a pátria é um crime capital, cujo infrator é executado ou condenado à prisão perpétua. E o fator traição é tão agravante no julgamento que, por exemplo, se um espião estrangeiro for descoberto e preso na Inglaterra, ele pode receber uma pena de 14 anos de prisão. Ao mesmo tempo, se for um inglês espionando a Inglaterra para um país estrangeiro, ele provavelmente receberá prisão perpétua. Isso porque, além de espião, ele também é julgado traidor.

A traição também está presente como covardia e monstruosidade na maioria das mitologias, inclusive na cristã, com Judas Iscariotes e seu famoso beijo.

Mas ela também esteve presente moldando nossa história.

No Brasil, o mais conhecido caso de traição é o de Silvério dos Reis,português, que, para quitar suas dívidas com a coroa, entregou Tiradentese todos os planos da inconfidência mineira. Tiradentes fora enforcado e esquartejado.

Nos Estados Unidos, Aldrich Ames, espião da CIA, se vendeu para a KGB e passou 15 anos vendendo informações e entregando nomes de informantes. Foi condenado à prisão perpétua.

E finalmente, na antiguidade, apesar de ainda ser um mistério a sua veracidade histórica, a lendária guerra de Tróia, contada por Homero, teve seu início devido à uma traição conjugal. Helena, esposa do grego Menelau, o trai com Páris, um príncipe troiano, e vai com ele secretamente para Tróia. Menelau reúne então todos os exércitos de todos os reis Gregos e parte com seus navios para guerrear durante 10 anos até que, finalmente, derruba Tróia.

A beleza do amor

O amor é muito mais que isso. Apresentei tudo isso apenas para mostrar o poder do amor. Quem ama pode sofrer muito mais e de formas mais trágicas do que quem nunca amou.

Mas quem ama, vive momentos gloriosos, alegrias plenas e sensações maravilhosas que, só quem já amou, sabe.

Porém, não encaremos tudo isso focando somente nos nossos conjugues. O amor se espalha por todas as áreas de nossas vidas e por isso devemos cultivá-lo. Sim, o amor não surge, ele é cultivado, é fecundado… Até nascer. Até nascer aquele bicho tão misterioso e mágico.

Portanto, independente do que possa vir a acontecer, permita-se amar. Distribua seu amor, deixe-se amar por seus familiares, amigos, namorados, namoradas, maridos, esposas, bichos de estimação e acima de tudo, você mesmo. Ame-se como o que você realmente é: a única pessoa nesse mundo que sempre estará ao seu lado, desde seu nascimento, até sua morte.

Mas deixemos de lado toda a baboseira de esotéricos e de autoajuda. Nunca viveremos somente do amor. Tenha raiva de vez em quando. Faz bem, acredite. Só sabemos o que é bom porque existem coisas ruins e necessárias.

O amor não tem definição. Portanto, não leve tão a sério tudo o que foi dito aqui, não leve tão a sério nenhuma regra, nenhuma explicação ou sugestão. Fique longe da autoajuda, pois, se é autoajuda, você não precisa de ninguém dizendo o que fazer. Os melhores psicólogos, os melhores terapeutas, os melhores professores são a família, os amigos e qualquer um que faça você refletir e se sentir bem. E não se esqueça de adotar aquilo que só uma palavra feia pode representar: O grande e sábio FODA-SE!

Ame, odeie moderada e temporariamente, sorria, chore… Enfim, viva. Viva sem se bloquear, sem se limitar. Viva plenamente, ou faça o que quiser — ame o mundo, pois é o único que você tem, e se achar que os outros estão deixando ele ruim, você vai ser a primeira pessoa a tentar melhorar. E chega de clichês.

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