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  • Foto do escritorChristian Gurtner

História da Aviação

Atualizado: 3 de dez. de 2020


A incrível história da aviação e o antigo sonho do homem de voar.

O primeiro vôo controlado

O primeiro vôo controlado

PATRONOS

Esse episódio foi possível graças ao apoio de Christian H Mendes, EDMAR SILVERIO PEREIRA, Etel Sverdlov, João Paulo da Silva Almeida, Luís Andrade, Pacifico Fernandes, Rafael de Carvalho, Samuel Bezerra de Lima, Silvia Mitsu D’ Avola, Valdemar Arantes Neto

E também com o apoio do Aeroclube de Pará de Minas


Santos Dumont em seu 14-Bis

Santos Dumont em seu 14-Bis

LINKS CITADOS

 

TRILHA SONORA

  1. Parisian — Kevin MacLeod

  2. Dark Hallway — Kevin MacLeod

  3. Decay — Kevin MacLeod

  4. Fall — Myuu

  5. Sonata in B minor for Violin — Mozart

  6. In the hall of the mountain king — Peer Gynt / Myuu

  7. Rise and fall — Myuu

  8. At launch — Kevin MacLeod

  9. Cortosis — Kevin MacLeod

  10. Erika — Wehrmacht

  11. Flight Hymn — Ross Bugden

  12. Exploring the inferno — Myuu

  13. Unstoppable — Ross Bugden

  14. Without Limits — Ross Bugden

  15. Sneaky Snitch — Kevin MacLeod

O Hindenburg, maior nave já voada no planeta

O Hindenburg, maior nave já voada no planeta

BIBLIOGRAFIA

  1. CROUCH, T.; BOYNE, W. History of flight. Disponível em: <https://www.britannica.com/technology/history-of-flight#ref260577>. Acesso em: 24 nov. 2018.

  2. MARTON, F. Por que Santos Dumont não é reconhecido no exterior. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/por-que-santos-dumont-nao-e-reconhecido-no-exterior.phtml>. Acesso em: 9 nov. 2018.

  3. ROHTER, L. To Brazil, Orville and Wilbur Were Fly-by-Nights. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2003/12/13/world/to-brazil-orville-and-wilbur-were-fly-by-nights.html>. Acesso em: 9 nov. 2018.

Amelia Earheart — Primeira mulher a cruzar o Atlântico voando

Amelia Earheart — Primeira mulher a cruzar o Atlântico voando

TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)


Ler a transcrição completa do episódio


Paris, França

12 de novembro de 1906

O brasileiro Alberto Santos-Dumont estava prestes a realizar um feito que o tornaria mundialmente famoso — pelo menos por um certo tempo. A bordo do 14-Bis, uma aeronave que ele mesmo desenvolveu, decola sob o olhar admirado de uma multidão de espectadores e especialistas que o veem voar 220 metros e então pousar.

Em 23 de outubro, ele já havia realizado um vôo que percorreu 60 metros em Bagatelle, mas foi o de Paris que o tornou famoso por toda a Europa. Mas não por muito tempo.

Chegou, posteriormente, a notícia de que os os irmãos Wilbur e Orville Wright haviam já realizado um primeiro vôo três anos antes. E em 1905, um ano antes do 14-Bis, eles já estavam executando vôos mais de meia hora, percorrendo quilômetros.

Começava então, uma disputa dos brasileiros contra o resto do mundo sobre quem inventou o avião. A resposta, porém, pode ser um pouco diferente, e teve início a séculos atrás.

Ícaro

Conta a mitologia grega que Dedalus, após matar seu sobrinho, se refugiou, junto com seu filho Icarus, na Ilha de Creta, do Rei Minos.

Lá nasceu um minotauro. E para se protegerem, Dedalus e Icarus criaram um labirinto, onde ficou aprisionado o monstro que, algum tempo depois, fora morto por Teseu.

Porém, pai e filho ficaram eles presos também no labirinto. Perceberam que não conseguiriam sair e, assim, tiveram que elaborar um outro plano de fuga. Decidiram que sairiam por cima.

Usando cera de mel de colmeias e penas de pássaros variados que encontraram, construíram asas artificiais e conseguiram fugir do labirinto voando.

Mas Icarus estava deslumbrado. E mesmo contrariando os avisos de seu pai, voou cada vez mais alto. Queria alcançar o Sol.

Porém, quanto mais próximo voava do Sol, mais a cera de suas asas derretia até que ele as perdeu e caiu no mar Egeu, onde se afogou.

Os primórdios

O homem sempre olhou para o céu e desejou voar. Desde a antiguidade que tentou-se criar máquinas voadoras imitando os pássaros. O que não funcionou, mas serviu para estimular o homem a continuar tentando.

Assim, entre os séculos XVI e XVIII, pesquisas sobre a aerodinâmica começam a gerar experimentos mais promissores.

Nessa época Galileu Galilei, Christiaan Huygens, Isaac Newton e Leonardo da Vinci foram figuras que contribuíram para a compreensão da relação entre o arrasto e a superfície de uma área quando exposta a uma corrente de fluido. Já Daniel Bernoulli, Leonard Euler e John Smeaton explicavam a relação entre pressão e velocidade.

Leonardo da Vinci, inclusive, chegou a projetar várias máquinas voadoras que realmente poderiam até funcionar, porém precisariam de tecnologia muito a frente de sua época.

Enquanto os complexos estudos e pesquisas que iriam permitir que máquinas mais pesadas que o ar voassem, os Irmãos Montgolfier decolam o primeiro balão tripulado da história. Título esse que gera uma briga com os portugueses ao mesmo estilo Dumont vs Wright.

Porém os balões eram outro tipo de vôo. Se baseavam no Princípio de Arquimedes, que define que “Todo corpo mergulhado num fluido recebe um empuxo para cima igual ao peso do fluido deslocado”. E o ar é um fluido. Assim através de gases menos densos ou simplesmente aquecendo o ar interno do balão, o deixando menos denso que o ar de fora. E o efeito é basicamente o mesmo de uma bóia na água.

Mas o homem não queria só boiar. Ele queria voar. E para isso ele teria que dar um jeito de fazer uma máquina muito mais pesada que ar levantar vôo. E as pesquisas de todos esses grandes homens seria crucial para isso.

Começamos a planar

Nos primórdios do século XIX, Sir George Cayley, um engenheiro inglês, projetava planadores que já se assemelhavam em forma aos aviões modernos.

Através da observação de pássaros, ele concluiu que uma asa com formato arqueado geraria mais sustenção pois a pressão do ar no topo da área curvada seria menor.

A aerodinâmica dos planadores de Sir George Cayley não era perfeita, mas já representava um grande avanço.

Em 1871 o engenheiro britânico Francis Wenham, junto com John Browning, criam o primeiro tunel de vento da história. Esse aparelho teria um profundo impacto no estudo das asas e no desenvolvimento de aerofólios.

E foi com essa carga de conhecimento que, no início da década de 1870, o alemão Otto Lilienthal elevou os estudos sobre o design de asas e contribuiu com dados importantíssimos para o vôo. Projetou e construiu planadores mais avançados e até biplanos, e entre 1890 e 1896 realizou mais de dois mil vôos planados até morrer na na queda de um deles.

Decolar é preciso

No início do século XX já se achava que o conhecimento acumulado era suficiente e o homem já sabia construir asas.

Assim pensava também Wilbur Wright, que, junto com seu irmão Orville, estavam pesquisando e desenvolvendo uma máquina capaz de voar por seus próprios meios.

No entanto logo perceberam que ainda era necessário evoluir o design das asas.

Usaram um túnel de vento para calcular valores de sustentação e arrasto e testaram inúmeros aerofólios e designs até que, em 1902 eles culminaram no planador Wright Glider.

Eles realizaram mais de 700 vôos com esse planador, percorrendo aproximadamente 190 metros e permanecendo 26 segundos no ar. O problema do design fora resolvido. O Wright Glider abriu o caminho final para a invenção do avião. Só restava um problema: a propulsão.

A propulsão

O grande problema para fazer uma máquina voar por seus próprios meios era a necessidade de um motor. E essa tecnologia parecia estar longe.

Durante o século XVIII, vários inventores tentaram usar o que tinham na época, como motores a vapor. Mas a relação peso-potência não era interessante para o vôo.

Porém, enquanto alguns homens tentavam decolar, outros já estavam dirigindo pelas estradas. Os automóveis estavam evoluindo e, assim, também seus motores de combustão interna, que estavam cada vez mais potentes e leves.

Os irmãos Wright começaram a trabalhar em uma máquina que voaria por meios próprios. Porém, viram que a maior dificuldade não seria nem desenvolver um motor, e sim a criação das hélices que gerariam a tração necessária para decolar e voar.

O primeiro vôo

Todo o conhecimento humano sobre fluidos, pressão, temperatura, aerodinâmica e motores se juntara para que o homem conseguisse sair do chão.

Milênios após o mitológico vôo de Icarus, e séculos após os primeiros projetos de Leonardo da Vinci, algo que mudaria toda a história acontece:

Em 17 de dezembro de 1903 o homem decola. A bordo da aeronave Flyer, Orville Wright faz o primeiro vôo controlado e auto-impulsionado da história.

O Flyer de 1903 possuía um motor de 4 cilindros com aproximadamente 12 cavalos de potência. Por não possuir um trem de pouso, o avião decolou de um trilho em Kill Devil Hills, na Carolina do Norte.

Mais controle

Com o sucesso do Flyer, os Irmãos Wright começaram a trabalhar na evolução do controlabilidade. Queriam poder controlar a aeronave em seus três eixos.

Além disso, realizaram melhoramentos no motor, que agora já passava os 20 cavalos e no design da hélice, o que aumentou a eficiência do motor.

Com vários ajustes e alguns novos modelos, em 1905 o novo Flyer dos Irmãos Wright decola, sendo considerado o primeiro avião completamente controlável e utilizável a levantar vôo. Nesse mesmo ano, o Flyer já estava realizando vôos de mais de meia hora de duração.

Em 1906, em Paris, Santos Dumont realiza primeiro vôo público a bordo de seu 14-Bis.

Guerra

Não demorou para que todo o mundo percebesse o potencial bélico que aquela invenção tinha. Assim uma quantidade enorme de dinheiro e recursos foi investida para a evolução dos aviões, principalmente com o estouro da Primeira Guerra mundial, em 1914, onde pôde-se observar a acelerada evolução aeronáutica ao se comparar os aviões do início da guerra com os do final em 1918.

Os primeiros aviões a participar da guerra, lembravam muito as básicas máquinas dos Irmãos Wright. Os pilotos batalhavam com pistolas e granadas de mão, que usavam para bombardear o inimigo.

Apesar da rápida evolução, os instrumentos ainda eram simples, e se perder era muito comum. Pilotos, não raramente, pousavam em algum campo ou pasto para pedir informações.

Não demorou muito os aviões já contavam com metralhadoras próprias e potentes motores, que alguns aviadores conseguiram dominar muito bem, como foi o caso do temido Manfred Von Richthofen, mais conhecido como Barão Vermelho. O apelido se deve ao Fokker vermelho triplano que ele voava e se tornou o ace da guerra, tendo abatido mais de 80 aeronaves inimigas morrer da França.

Evolução

Após a guerra os aviões não paravam de evoluir, bem como os pilotos.

Em 1927, Charles Lindbergh, um piloto americano, decide tentar ganhar o prêmio oferecido por um hoteleiro, que pagaria 25.000 dólares (uma fortuna para a época) para o primeiro que conseguisse através o atlântico sem fazer nenhuma para sequer para abastecer.

Assim, Lindbergh, em um avião customizado pela Ryan Airlines, o qual nomeou de Spirit of St. Louis, decolou de Nova York e pousou com sucesso em Paris, diante de um público de mais de 150.000 espectadores.

Um ano depois foi a vez da também americana Amelia Earheart. Uma das primeiras mulheres pilotos e a primeira a cruzar o Atlântico voando. Depois de bater vários outros records, ela e seu navegador desapareceram enquanto tentavam uma volta ao mundo em um avião em 1937.

A aviação estava indo de vento em popa. Linhas aéreas começavam a surgir e aviões de passageiros ficavam cada vez maiores.

O DC-3, um bimotor utilizado até hoje em alguns países, dominou os céus quando o assunto era levar passageiros. Ele entrou em operação em 1936, com motores de 1000 cavalos de potência e podia levar até 21 passageiros a 300 quilômetros por hora.

Mas a busca por vôos transatlânticos de passageiros continuava. A solução veio da Alemanha Nazista em forma de dirigíveis criados pela empresa Zeppelin. O maior deles, o Hindenburg — que até hoje detém o título de maior nave já voada, podia levar luxuosamente dezenas de passageiros a 126 quilômetros por hora com uma autonomia de 16.000 kilômetros.

O Hindenburg fez 17 viagens transatlânticas, sendo sete delas para o Brasil, até que em 1937 explodiu quando chegava em Nova York. Esses dirigíveis inflamáveis rapidamente caíram em desuso.

Mais uma guerra

Com a chegada da Segunda Guerra, mais uma vez a evolução tecnológica acelera. Com aviões maiores e capazes de carregar grandes bombas não demorou para surgissem modelos de aviões com motores a reação, tecnologia essa que seria fundamental para a aviação dos dias de hoje.

Após o fim da guerra militar, começa a guerra comercial. Fabricantes tentam desenvolver aviões maiores, rápidos e mais eficientes do que o do concorrente. A Boeing, a Lockheed e a Douglas fabricavam aviões cada vez melhores, enquanto as linhas aéreas focavam no conforto e nos serviços, tornando os vôos em uma experiência luxuosa para os passageiros.

Até os 50, ainda não havia nenhum avião de passageiros capaz de cruzar o Atlântico sem realizar paradas. Mas a Douglas e a Lockheed resolvem esse problema com os DC7 e Super Constellations, respectivamente, que eram aeronaves capazes de fazer vôos transatlânticos sem precisar parar.

No final da década de 50, a grande maioria dos viajantes americanos e europeus já preferiam o avião ao invés do navio para viajar entre os continentes.

Com o passar dos anos, os motores a reação passaram a ser mais usados e a pressurização das cabines permitiu se voar muito mais alto, aumentando a eficiência. O céu, para o homem, não era mais o limite.

Admirável mundo novo

No mesmo ano em que o homem chegava a Lua, faz o primeiro vôo o famoso Concorde, o primeiro avião supersônico de passageiros, que era um grande avanço tecnológico, porém uma catástrofe econômica. Apesar de fazer as viagens muito mais rápido do que as aeronaves da época, o Concorde possuía um custo de operação muito grande, o que acabou tornando as viagens excessivamente caras. Ele encerrou suas atividades em 2003.

Hoje a aviação conta com tecnologia inimaginável para os inventores de menos de 100 atrás. Onde antes no cockpit tínhamos um engenheiro de vôo, hoje temos um computador. Há instrumentos e sistemas capazes de pilotar o avião sozinho, detectar tempestades e outras aeronaves próximas e vários sistemas de emergência que deixam os vôos extremamente seguros.

A aviação militar já utiliza aeronaves não tripuladas, que são capazes de decolar, atacar um alvo com precisão e retornar em segurança.

Na aviação comercial, se destaca hoje o Airbus A380, que, dependendo da configuração, pode levar 800 pessoas a bordo e possui autonomia de mais de 15.000 km, sendo capaz de voar dos Estados Unidos até a Austrália a aproximadamente 900 quilômetros por hora.

Dumont Vs Wright

Talvez após conhecer todos os grandes homens e mulheres que fizeram a aviação como ela é e, principalmente aqueles do passado que desbravaram a física e os mistérios para se conseguir fabricar uma asa, é até estranho perguntarmos quem inventou o avião. Mas sobre a disputa particular entre Dumont e Wright, é preciso deixar o nacionalismo de lado.

Quando as provas mostraram que os Irmãos Wright realmente haviam voado primeiro, a fama de Dumont, como pioneiro da aviação foi por água abaixo até mesmo na França, onde havia realizado seu grande vôo.

Mas por quê muitos brasileiros ainda afirmam que Santos Dumont foi o inventor do avião?

É difícil achar até mesmo o brasileiro que diga que Santos Dumont decolou antes dos Irmão Wright. Esse fato é indiscutível, os Wright decolaram muito antes. A causa da briga está na definição de vôo e também baseada em alguns mitos.

Alguns dos defensores ferrenhos de Santos Dumont dizem que o vôo dos Wright não preenchia os critérios da época, de se manter no ar pelos próprios meios.

Mas isso não é verdade, já que em 1905 os vôos dos americanos já duravam mais de meia hora, percorriam quilômetros e eram 100% controlados, realizando as manobras necessárias para navegar a aeronave.

Outra afirmação é a de que o Flyer dos Wright só conseguia decolar usando catapultas. Esse argumento, porém, é baseado em mito. O Flyer de 1903 decolou sozinho, sem o uso forças auxiliares. Porém, como não tinha trem de pouso, teve que fazer uso de um trilho.

Mas é fato que os Wright, posteriormente chegaram a usar uma espécie de catapulta para decolar outro Flyer em uma região sem ventos.

No final das contas, a Fédération Aéronautique Internationale, responsável pela padronização e registro de recordes aeronáuticos, reconheceu o vôo do Flyer de 1903 como o primeiro vôo controlado e auto-sustentado de uma máquina mais pesada que o ar.

O legado de Dumont

Enquanto se briga sobre se Dumont inventou ou não o avião, os brasileiros esquecem de que ele deixou um legado até mesmo mais admirável.

O motivo dos Irmãos Wright não terem ido a público antes, era porque o principal objetivo de sua criação era comercial. Eles queriam ganhar dinheiro com o Flyer.

Já Santos Dumont era um entusiasta apaixonado pela aviação, tendo já uma longa história com balões. Seu segundo avião, o Demoiselle foi o primeiro avião a ser produzido em massa. E tudo isso porque ele simplesmente disponibilizou o projeto ao público e não teve nenhum interesse em patentear, permitindo que qualquer um construísse seu avião e a aviação se desenvolvesse na Europa, enquanto os Irmãos Wright brigavam na justiça para evitar que outros construíssem seus aviões sem pagar pelos Royalties.

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