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  • Foto do escritorChristian Gurtner

Hypatia Argumentum


Um pouco da história de Hipatia (Hipácia), da Biblioteca de Alexandria e os acontecimentos na Ágora. Prepare-se para mudar a história.

Esse episódio faz parte dos fantásticos podcasts mais antigos do Escriba Cafe que, por questões de direitos autorais, não estão disponíveis para download nem pelo feed, Spotify, etc, (nem mesmo pelo player fixo no site) sendo possível ouví-los somente pelo player no respectivo post.

FICHA TÉCNICA

Roteiro, produção e narração: Christian Gurtner

BIBLIOGRAFIA

  1. SCHILLING, V. A Biblioteca de Alexandria, o coração da humanidade. Disponível em: < http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/2002/10/31/001.htm >. Acesso em: 02/05/2013

  2. RIBEIRO, F. A história de Hipácia da Alexandria. Disponível em: < http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/conheca-historia-hipacia-alexandria-678175.shtml >. Acesso em: 10/05/2013

TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)


Ler a transcrição completa do episódio


Máquina do Tempo

A ignorância é o veneno que destrói a humanidade. A ignorância causa mortes, destruição, sofrimento e, o pior de tudo: gera mais ignorância ainda. É um vírus que assola a humanidade desde seu surgimento.

A ignorância faz os homens buscarem respostas mágicas, acreditarem em fantasias absurdas… cria o fanatismo, que mata e destrói… e cria também uma enorme fazenda de massas facilmente controláveis e exploráveis.

Pode ser uma mina de ouro para alguns, mas para a humanidade como um todo é só isso: um vírus que nos levará a destruição.

É hora de acabar com a ignorância.

A Biblioteca de Alexandria

Alexandria, Anno gregoriano de 415

Era uma época turbulenta, o mundo estava prestes a ver Roma ruir, gerando a queda do império Ocidental.

No Egito romano encontrava-se Alexandria, cidade fundada por Alexandre, o Grande, e que há muito guardava quase todo o conhecimento antigo nas prateleiras de sua notável biblioteca. Porém a história da Biblioteca de Alexandria começa há mais de meio milênio.

Dizem que, por insistência do filósofo Demétrio, exilado no Egito, no ano de 280 A.C., que pregava ao Rei Ptolomeu I que Alexandria deveria se tornar uma rival cultural de Atenas, deu-se início ao projeto da grande biblioteca.

Nos últimos dois séculos antes de Cristo, Alexandria já era uma capital do mundo helenístico, onde residiam e passavam pessoas de todas as partes do mundo. Era um centro cultural onde a ciência e a filosofia podiam ser respiradas em cada esquina.

Em 46 A.C., Júlio César toma Alexandria para acabar com as disputas entre Cleópatra e seu irmão Ptolomeu. Numa das batalhas navais, um carregamento de livros é acidentalmente incendiado e, provavelmente vários volumes são perdidos, mas nada que pudesse comprometer de forma significante o acervo mais importante da biblioteca.

Para compensar a perda, após a morte de Júlio César, Marco Antônio, em 41 A.C., doa mais de 200 mil volumes para a Biblioteca de Alexandria.

Após o domínio de Roma, Alexandria prosperou ainda mais. Era a capital da ciência e da filosofia, visitada por grandes filósofos como Arquimedes e berço da moderna astronomia científica.

Foi nessa grande fábrica de conhecimento, chamada Alexandria, que surge a primera grande cientista mulher de que se tem registro: Hypatia.

Hypatia

No século quinto, o historiador Socrates, o Escolástico, escreveu: “Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipácia, filha do filósofo Teón, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos”.

Hypatia era bela e focada completamente na ciência e na filosofia e, por isso, dizem, nunca se casou ou sequer se relacionou com ninguém. Porém era admirada e até adorada não só por sua beleza, mas por sua pesquisa, seu conhecimento e ensinamentos.

Principal representante do neoplatonismo, Hypatia estudava o homem e o universo, chegando a abordar — novamente — o tema do heliocentrismo, fazendo grandes avanços em suas pesquisas e estudos.

Amparada pelo grande acervo da Biblioteca e do museu de Alexandria, a filósofa também contribuiu com diversas obras para suas ricas estantes.

Contudo, aqueles eram anos conturbados no Império Romano. Em alexandria viviam lado a lado os judeus, os seguidores da antiga religião, os ateus e também os adeptos na nova seita que crescia cada vez mais e, na mesma proporção se mostrava cada vez mais intolerante: o cristianismo.

A biblioteca, anexada ao templo de Serápis era amaldiçoada pelos cristãos, que consideravam ali o antro de toda a maldade pagã. A tensão religiosa aumentava cada vez mais em Alexandria.

Os assassinos do conhecimento

A intolerância religiosa ficava cada vez mais violenta. Os cristãos pregavam que tudo que não fosse de acordo com a bíblia era demoníaco. Troca de ofensas e perseguições eram constantes e não raro terminava em brigas e mortes.

Estava tudo pronto para uma das maiores tragédias da humanidade.

No ano de 391, uma multidão de cristãos enfurecidos, pregando palavras do antigo testamento e agindo em nome de deus — mas liderados por bispos — dominaram a biblioteca e o templo. Os rolos e papiros que registravam milênios de conhecimento humano, foram rasgados e queimados como lixo. Desprezados como papel higiênico.

Paredes e estátuas foram derrubadas e o que restou do edifício foi ocupado pelos fanáticos da nova seita.

De forma incrivelmente ignorante, o futuro científico e filosófico da humanidade fora arrasado, atrasando em séculos os avanços conquistados.

Em seguida os cristãos se voltaram contra os judeus, que passaram também a ser perseguidos.

A morte de Hypatia

Hypatia continuou seus estudos, fazendo descobertas e grandes avanços, principalmente em astronomia.

Mas os cristãos odiavam cada vez mais a filósofa. Com sua carga intelectual e grande conhecimento, ela era considerada como conselheira por várias figuras importantes na política, até mesmo por alguns ex-alunos cristãos. E isso preocupava Cirilo, o bispo de Alexandria, que via Hypatia como um empecilho para os planos de poder do cristianismo.

O machismo cristão foi usado então para tentar desmoralizar e diminuir a influência de Hypatia. Vários políticos foram obrigados a se ajoelhar diante da bíblia, que era lida em voz alta, principalmente trechos que rebaixavam as mulheres e as colocavam unicamente como servas dos lares e reprodutoras.

Em 413 os líderes cristãos, sob ordem de Cirilo, começaram a espalhar boatos de que Hypatia praticava magia negra e adorava satanás, e por isso os políticos a adoravam, pois ela os havia enfeitiçado.

O golpe final de Cirilo, se deu no ano de 415.

Enquanto voltava para casa, Hypatia foi atacada por uma turba de cristãos, que a levaram para um de seus templos, tiraram-lhe a roupa e, usando cascas de ostras, arrancaram-lhe a pele e a carne, destroçando-a ainda viva. Seus braços e pernas foram arrancados e espalhados pela cidade, e o restante de seu corpo queimado em uma pira.

Morria ali um dos últimos pontos de luz da humanidade, que, junto com a destruição da Biblioteca de Alexandria, colocou nos ombros da religião a responsabilidade de séculos de penumbra científica, guiados pelas trevas do cristianismo e outras religiões tiranas.

Após a morte de Hypatia, qualquer manifestação religiosa que não fosse cristã, foi proibida em Alexandria. O mesmo se espalhou por todo o império, concretizando o domínio da igreja.

Quase nenhuma obra de Hypatia sobreviveu. Perdemos naqueles anos, obras importantíssimas de grandes filósofos, grande parte do conhecimento humano tinha sido destruído.

A escuridão criada pela igreja naqueles anos só começou a se dissipar na renascença, quando tudo o que havia sido perdido mais de mil anos antes começou a ser REDESCOBERTO.

Mudando o passado

Poderia ter sido diferente. Tantas coisas que perdermos. E se mudássemos a história aí, próximo ao primeiro ano gregoriano? Eliminaremos da história o Cristianismo e toda forma de religião que nos privasse da razão. Pode ser uma visão até ingênua, mas faremos isso para refletirmos sobre determinados conceitos.

Daremos prosperidade e educação à maioria das pessoas, fazendo com que assim elas não busquem consolo, explicações e esperança em palavras mágicas e seres sobrenaturais que justifiquem seus infortúnios.

Esse é o ano zero. O ano em que Roma está em seu auge e as religiões no ocidente começam a perder força, mas não há fome, não há miséria e assim, Jesus Cristo, um dos vários profetas de rua, não será repercutido.

A filosofia leva o conhecimento a toda população. A humanidade evolui e percebe cada vez mais que os demônios do passado podem ser facilmente desmistificados com a pesquisa e a razão.

E enquanto vão perdendo a fé em seres místicos, os humanos percebem que precisam curar pragas e evitar catástrofes de forma racional.

A biblioteca de Alexandria fica cada vez mais rica. O conhecimento acumulado em suas estantes é usado por vários outros filósofos e cientistas para seus estudos. Novas descobertas são feitas.

Hypátia finalmente comprova o heliocentrismo e a forma como o homem vê o universo muda completamente, as obras da filósofa se preservam após sua morte — de causas naturais, depois de uma vida vasta de contribuições para a ciência, assim como inúmeros estudiosos que vieram depois dela e puderam pensar livremente, sem limitações ou castigos.

Sem deuses para abençoar ou castigar as plantações, o homem rapidamente começa a prever e, de certa forma, controlar a natureza. Novas invenções surgem a cada dia, deixando as nações racionais prósperas e evoluídas.

Outras nações que ainda mantém a religião recebem as boas novas das prósperas terras onde se cultua a razão e acabam perdendo a fé também.

Não há mais profetas ou fanáticos religiosos nas praças públicas e sim pensadores e sábios explicando o poder que o homem tem.

Não há mais santidade da vida, há a santidade das relações e das ações. O homem percebe que ele é ilimitado, e que é capaz das mais incríveis realizações.

Começa a surgir um culto ao homem. Maravilhosas músicas com corais e orquestras são compostos para louvar o ser humano e a natureza e rituais são criados unicamente para adorar a humanidade e todo o seu potencial.

Não há proibições ou limitações para as mulheres, o que abre mais ainda os horizontes do conhecimento, surgindo diversas cientistas e dirigentes com fabulosas contribuições para o planeta.

Guerras são cada vez mais raras. Ao perceberem a força que a união de todos homens gera para a vida de cada um no planeta, divisas começam a sumir.

Por volta do século XIII, já temos uma metalurgia avançada, vários protótipos de motores estão em funcionamento e pequenos planadores mostram que em breve o homem dominará os céus.

No século XV o homem já está ciente do impacto de seu progresso na natureza e foca no avanço das pesquisas com energia limpa e auto-sustentável, sabendo que assim terá combustível eterno e barato.

Na sociedade, não há motivos financeiros para o crime, pois sem a escravidão e os abismos sociais e havendo oportunidades iguais para todos, a prosperidade bate na porta de todos, e todos desejam que o próximo prospere, pois sabem que isso influi diretamente na sua própria fortuna.

Não existem prisões, e sim universidades de reabilitação para as quais são enviados os poucos criminosos que recebem mais estudo e são obrigados a trabalhar para literalmente pagar sua dívida com a sociedade. Os que são realmente maus e mostruosos, repetindo crimes e causando sofrimento alheio não contam mais com a proteção da divindade da vida, são eliminados para o bem da humanidade.

Não há riqueza exagerada, mas todos têm tudo o que desejam, o que elimina de vez qualquer chance de roubo ou corrupção. Sem a cultura do pão e circo, sem a ignorância e sem a pobreza, não há adoração a esportistas ou artistas, mas sim o respeito e admiração. São os bombeiros, os cientistas e os filósofos os verdadeiros heróis honrosos.

No século XVII o homem chega a lua. Sem o grande desperdício de homens e mulheres que haveria nas matanças das guerras e das perseguições religiosas, surgem inúmeras mentes brilhantes a cada ano. A pesquisa com células tronco já está em estágio avançado. Já não há mais guerras.

Em 1800 o homem já está em perfeita harmonia com a natureza. Tudo que se pega é devolvido ao meio ambiente. Não há poluição nem destruição. Não há mais fronteiras e todos os humanos fazem parte de uma só nação. O homem ocupa o planeta com sabedoria e responsabilidade. Não existe mais doença incurável nem deficientes físicos.

Na virada do ano de 2100 o homem pousa no primeiro planeta habitável fora da Via Láctea e lá encontra a resposta para uma de suas mais importantes perguntas.

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