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  • Foto do escritorChristian Gurtner

O dia em que nada aconteceu

Atualizado: 5 de dez. de 2020

No dia 18 de abril de 1930, quem ligou o rádio para ouvir as notícias do programa matinal da londrina BBC, se deparou com algo que hoje nos parece impossível. O locutor simplesmente anunciou: “Hoje não temos novidades/notícias” (livre tradução). E então música preencheu o tempo que seria destinado às notícias do dia.


Mas o que diabos aconteceu? Houve realmente um dia em que nada aconteceu? Sim e não.

Naquela época as rádios eram supridas com notícias vindas de agências e, principalmente, do governo — não muito confiáveis, diga-se de passagem. Porém, nesse dia, as fontes de notícias parecem ter secado e a BBC não tinha mais o que noticiar.


Era uma época onde a informação era lenta e muito distorcida (não que hoje seja diferente na distorção, mas na época era quase impossível, mesmo que uma rádio quisesse divulgar algo que aconteceu do outro lado do mundo com precisão). Mas naquele dia, nada de importante — para eles — tinha acontecido, e assim, nada foi noticiado.


É claro que crimes e eventos estavam ocorrendo em toda parte do mundo. Mas eles não tinham como noticiar algo que não lhes foi entregue.

Hoje, isso é algo inimaginável. Com a internet bastam alguns cliques e você lerá a notícia do alce que defecou no quintal de alguém, há alguns segundos, do outro lado do mundo.

É por essa facilidade e velocidade de informação, que nunca faltam notícias e provavelmente nunca faltará pois, unindo o advento da internet com a crescente futilidade do povo (Brasil que o diga), mesmo que se nada de importante acontecer, ainda teremos ondas de informação sobre a celebridade que casou, a que traiu, a que fez cirurgia, a que bebeu uma dose a mais e também sobre os jogadores de futebol, e os campeonatos e todos outros eventos que não importam, mas que são noticiados para o povo que precisa do circo romano dos dias de hoje.

 

É claro que não podemos culpar totalmente os jornais e revistas por tanta futilidade e inutilidade. Eles querem, como todos, dinheiro. E fornecem o que o povo quer — e consegue — ler. E mesmo com tantas formas de adquirir e transmitir a notícia com precisão — ou seja — a verdade, não o fazem. É preciso tomar partido para enfeitar a notícia ou, simplesmente mudar o sentido da mesma por algum interesse maior. E mesmo os que ainda respeitam o conceito de ética e querem ser verdadeiros, são sabotados por entrevistados que mentem, bandidos, policiais, políticos, diplomatas, assessores etc.


O mundo hoje se encontra superlotado e é inundado com transmissões de notícias partindo de todos para todos. Boatos e pegadinhas tomam proporções alarmantes. Embustes criados em blogs populares são copiados por grandes jornais que nem sequer conferem o que estão publicando e todo o tipo de mentira é engolida por grande parte da população que ainda não percebeu o quanto as notícias são vulneráveis nos dias de hoje.


O que aconteceu no dia 18 de abril de 1930 na BBC é uma lembrança quase ingênua de uma época não vivida que podemos romantizar e pensar que eles não se importavam com as asneiras que nos importamos hoje.

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