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  • Foto do escritorChristian Gurtner

Pompeia

Atualizado: 3 de jan. de 2021



Breve história de Pompeia e Herculano - e o trágico fim que as fez desaparecer por séculos - e a filosofia soterrada com elas.


Pompeia e o Vesúvio

Direção, produção e edição: Christian Gurtner

Roteiro e Pesquisa: Christian Gurtner


Um dos corpos encontrados em Pompeia
  • Bond, Sarah. “August 24, 79: An Hour-By-Hour Account Of Vesuvius’ Eruption On Its 1,937th Anniversary.” Forbes, 24 Aug. 2016, www.forbes.com/sites/drsarahbond/2016/08/24/august-24-79-an-hour-by-hour-account-of-vesuvius-eruption-on-the-1937th-anniversary/?sh=5c3a56945137. Accessed 28 Dec. 2020.

  • Carta a Meneceu (Sobre a Felicidade) 1 -O Estudo Da Filosofia.

  • “Did Vesuvius Vaporize Its Victims? Get the Facts.” Science, 16 Oct. 2018, www.nationalgeographic.com/science/2018/10/news-pompeii-deaths-vesuvius-vaporized-skulls-exploded-chemistry/. Accessed 7 Dec. 2020.

  • Lynch, Patrick. “7 Things You Didn’t Know About the Tragic Town of Pompeii and the Volcanic Eruption That Destroyed It.” HistoryCollection.com, HistoryCollection.com, 7 Aug. 2017, historycollection.com/7-things-didnt-know-tragic-town-pompeii-volcanic-eruption-destroyed/2/. Accessed 15 Dec. 2020.

  • “The Destruction of Pompeii, 79 AD.” Eyewitnesstohistory.com, 2020, www.eyewitnesstohistory.com/pompeii.htm. Accessed 22 Dec. 2020.


Bordel Lupanar

Transcrição do episódio


Carta de Plínio, o jovem, para Tácito.


“Meu tio estava em Misenum, no comando ativo da frota. Em 24 de agosto, no início da tarde, minha mãe chamou sua atenção para uma nuvem de tamanho e aparência incomuns. Ele calçou os sapatos e subiu até um local que lhe desse a melhor visão do fenômeno. Não estava claro a essa distância de qual montanha a nuvem estava subindo… mais tarde descobriríamos que era o Vesúvio.”


Pompeia, 23 de agosto do ano 79


O sol nascia e as ruas da cidade costeira começavam a se movimentar. Como somente algumas casas possuiam um sistema de ágúa, a maioria dos vinte mil habitantes tinha que buscar o precioso líquido logo cedo nas fontes públicas.


Nas casas pão e queijo eram servidos no café da manhã e nas ruas as barbearias já estavam cheias. As barbearias eram também locais para conversar e relaxar. Todas as demais lojas do comércio da cidade também começavam a funcionar.


Todos se preparavam para mais um dia de trabalho - ou de lazer, já que a cidade era um conhecido ponto turístico e refúgio de ricas famílias romanas que mantinham propriedades ali para passar as férias.


Durante a tarde as ruas voltavam a se encher. No fórum as pessoas iam e vinham e muitos discutiam assuntos relacionados a cidade.


Os bordéis também estavam movimentados. O mais famoso deles, chamado Lupanar, era decorado com mosaicos e pinturas eróticas de várias cenas de sexo. Havia também nesse bordel um marketing de vanguarda: os clientes eram pedidos a deixar uma avaliação sobre o serviço prestado e a performance das prostitutas. E assim podia-se ler inúmeras avaliações nas paredes designadas.


No meio da tarde às vezes havia combates de gladiadores no anfiteatro, mas após uma grande e violentíssima briga de torcidas rivais, acabou sendo proibido por algum tempo.


As Termas também estavam movimentadas naquele horário. As termas eram casas de banho que os romanos usavam para se lavar, mas também se exercitar, relaxar e fechar negócios ou fazer política.


O por do sol estava próximo. Aquela luz do fim dia deixava a baía de nápoles muito bonita. O mar e a grande montanha a noroeste que chamavam de Vesúvio, ficavam particularmente belos.


Não havia muito o que fazer a noite e, talvez as ruas escuras não fossem muito seguras. As pessoas voltavam para casa para jantarem azeitonas, pães, bolos e, aqueles que podiam pagar, preparavam também carnes. Prontos para descansar de mais um dia, não se importaram com um leve tremor de terra que passou pela cidade, assim como já tinha acontecido outras vezes nos últimos dias.

Era hora de dormir.


Ao raiar do dia, Herculano, uma cidade localizada do outro lado do Vesúvio, começava também o seu dia. A rotina era bem parecida coma de Pompéia.

Herculano era também uma bela cidade litorânea muito frequentada por romanos ricos. Nas belas propriedades da cidade, vinho era servido nos jardins enquanto as pessoas discutiam sobre filosofia.


Naquela época o eruditismo era sinal de status. As casas possuíam ricas bibliotecas e nas festas e banquetes as discussões filóficas duravam horas.


Numa das casas, o proprietário tinha em sua biblioteca uma interessante obra chamada De rerum natura, ou A Natureza Das Coisas. Esse poema didático era dividido em seis volumes.


A palavra volume vem do latim volumen, que se diz de algo que foi enrolado. E assim era os livros da época: rolos de papiro.


O poema foi escrito filósofo Tito Lucrécio Caro, e coloca uma realidade mais racional sobre o homem, a natureza e um universo sem deuses. Expõe a filosofia de Epicuro, que defendia a tranquilidade espiritual e a liberdade humana. Epicuro defendia o atomismo de Demócrito, que foi largamente exposto por Lucrécio em sua obra.

A importância filosófica e científica dessa obra seria claramente exposta num futuro longínquo.


E naquele dia, pode ser até que alguns visitantes dessa casa, bebiam vinho no jardim enquanto debatiam a filosofia de Epicuro e a obra de Lucrécio e viram uma estranha nuvem de fumaça se erguer no horizonte.


Eles não sabiam, mas Pompeia já estava sendo varrida do mapa, e em 12 horas seria a vez de Herculano.



Plinio, o Jovem, estava na cidade de Misenum, que ficava a noroeste na baía de Nápoles, e tinha uma boa visão do Vesúvio. Ele estava hospedado na casa de seu tio, Plínio, o Velho, e testemunhou, todos os acontecimentos daquele trágico dia 24 de agosto de 79 e os registrou em duas cartas enviadas ao historiador Tácito.

Ele escreveu:


“Meu tio estava em Miceno e enquanto comandante dirigia pessoalmente uma frota. No dia 24 de agosto, por volta de meio dia, minha mãe lhe mostra o surgimento de uma nuvem de inusitado aspecto e tamanho.


Saía de casa quando recebeu uma mensagem de Rectina, esposa de Tasco, aterrorizada com o perigo iminente –pois sua villa estava situada aos pés do monte e não havia fuga possível senão em barcos–: rogava que a salvasse de tamanho risco.

O que começara com um espírito investigador afronta com um magnânimo. Faz sair um frota, e ele mesmo embarca para prestar auxílio não somente à Rectina, mas a muitos –pois era muito frequentada a orla.


Já caía cinza sobre os barcos, mais quente e mais densa quanto mais se aproximavam; já também pedras-pomes negras e calcinadas e lascadas pelo fogo; já um repentino baixio, e as praias estavam inacessíveis pelo derruimento do monte.”


Plínio, o velho, perece por consequência de sua tentativa de salvar o máximo de pessoas que conseguisse.


As cartas de Plínio, o Jovem, contam também, em detalhes como foi toda a operção de resgate que seu tio montou, bem como as informações que chegavam até ele e também como os habitantes de Misenum tentaram se proteger para não se vitimarem também.



Nas primeiras horas de atividade do Vesúvio, cinzas e pedras foram jogadas sobre Pompeia, o que fez com que os moradores se protegessem em suas casas. Mas o peso do acúmulo de cinzas começou a fazer tetos desabarem, causando as primeiras vítimas.


Em pânico, começaram a fugir, mas para a maioria, já era tarde demais. Várias pessoas foram esmagadas por pedras lançadas do vulção e o restante da população que não tinha conseguido fugir, foi surpreendida pela nuvem piroclástica, cujo calor os fez morrer quase instantaneamente evaporando o sangue e os fluidos cerebrais e quase literalmente explodindo suas cabeças.

Mais de duas mil pessoas morreram.


Ao amanhecer do dia seguinte, Pompeia já não existia mais. Estava embaixo de seis metros de cinza vulcânica e púmice e, alguns anos depois, a localização da cidade seria desconhecida, praticamente esquecida.


Herculano não teve um fim muito diferente, porém, a população que tinha condições, teve mais tempo para abadonar a cidade. Aproximadamente 340 pessoas morreram ali, a maioria, soterrada.


Pompeia só foi redescoberta no século XVIII, quando desastrosas escavações foram iniciadas em busca de obras de arte. No século XIX os métodos de escavação foram melhorados e mais organizados, preservando melhor a cidade.


No século XIX, o primeiro grande diretor do sítio arqueológico de Pompeia, Giuseppe Fiorelli, ao se deparar com a grande quantidade de corpos que era encontrada, cria uma técnica simples mas genial para criar moldes dos corpos.


O fato é que os corpos que vemos hoje em exposição, não são bem corpos. Quando os habitades de Pompeia foram mortos, o calor não foi suficiente para evaporar a carne, assim, cinzas vulcânicas os cobriram e, com o passar do tempo, seus corpos de decomporam, deixando somente ar e ossos dentro de um uma espécie de forma de seus corpos. A técnica de Giuseppe Fiorelli foi preencher esses espaços com gesso, gerando assim um molde perfeito dos corpos no momento da morte.


E isso junto com as cartas de Plínio e toda a escavação, nos ajudou a conhecer a história de uma cidade que havia sido esquecida há quase dois milênios.


Também soterrado em Herculano, estava aquela cópia de De Rerum Natura, de Lucrécio, que só seria redescoberta ali em 1981, junto com tantas outras obras, que a casa onde estava, passou a ser chamada pelos arqueólogos, como vila dos papiros.


Porém, uma outra cópia de A Natureza das Coisas havia sido descoberta séculos antes.


Em 1417, Poggio Bracciolini encontra em um mosteiro alemão uma cópia da obra de Lucrécio. A filosofia que a igreja por tanto tempo não mediu esforços para enterrar, fora então novamente exposta. Essa descoberta foi tão importante que pode ter influenciado na virada da civilização para a modernidade.

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