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  • Foto do escritorChristian Gurtner

Seis dias no Santuário

Atualizado: 5 de dez. de 2020

Quando o assunto é escrever ou fazer qualquer coisa que me obrigue a criar, estou sempre “travando” por causa do ambiente e da ferramenta. Preciso constantemente mudar de lugar, como um nômade que, após consumir os recursos de uma floresta, muda-se para alguma terra onde há mais alimento.


Foi em um desses travamentos que, certo dia, decidi viajar para o Santuário do Caraça. Não foi uma escolha aleatória. Já estive lá, há muitos anos, e, vez ou outra, retorno. E como parte da história de meu próximo livro acontece lá (spoiler?) resolvi unir o útil ao agradável e escolher o Santuário como a próxima terra do “nômade”.

 

O Santuário do Caraça tem mais de dois séculos de história, tendo como fundador o Irmão Lourenço, que assim se identificava, escondendo o nome verdadeiro e, por isso, envolto em muito mistério. Uma das teorias é a de que ele fugiu de Portugal após ser condenado por traição em um atentado contra o rei. A vida dessa figura dá um livro.

Para aumentar ainda mais o mistério, o Irmão Lourenço escolhe um lugar extremamente ermo e de difícil acesso — o lugar é tão isolado que essa descrição é precisa até os dias de hoje — para construir uma pequena igreja em estilo barroco com duas alas para hospedar outros padres, como um mosteiro. Vários anos depois o mosteiro se torna um colégio interno. Não um colégio interno qualquer, mas uma das melhores escolas da América Latina, de onde saíram várias personalidades importantes do passado.

O colégio era visitado por D. Pedro I e D. Pedro II e também por filósofos estrangeiros, sendo sempre tópico de várias páginas dos diários ou obras desses visitantes ilustres. Veja abaixo o diário de D. Pedro II sobre sua visita ao Caraça

O colégio encontrou seu fim em um incêndio que teve início no laboratório e consumiu parte da biblioteca e uma das alas dos alunos. Haviam obras inimagináveis ali que o fogo levou.


Porém, mais do que danos materiais, a história de um grande colégio era também levada pelo fogo ao seu fim. O colégio fechou e alguns anos depois reabriu como uma espécie de mosteiro e museu.

 

De Belo Horizonte ao Caraça gasta-se, no mínimo, duas horas até chegar em um vilarejo com poucas casas e muito verde. Ali passa uma única estrada com placas informando que você está “chegando no paraíso”. Tudo quase deserto.

Eu escolhi a época que sabia não ter turistas demais nos fins de semana e praticamente ninguém durante a semana. O período chuvoso deixava tudo mais deserto ainda.


A estrada termina em uma espécie de antiquíssima portaria, com enormes portões de ferro com algumas décadas de idade (me parece que hoje concluíram uma portaria mais moderna, estragando, assim, a sensação de início de filme de terror).


A partir dessa portaria você começa uma outra viagem. São alguns quilômetros onde há somente a estrada, árvores e você. Estava tudo nublado. Alguém se lembra do início do filme “O Iluminado“, com Jack Nicholson? É basicamente essa sensação que temos ao seguir por essa estrada, porém, trocando a neve por uma enorme floresta.


De repente, depois de uma curva, por entre as árvores aparece a torre da igreja de forma majestosa. A construção não tem nada demais, é bonita, sim, mas nem se compara a outras edificações históricas pelo mundo. Mas ali, com todo aquele cenário, a impressão que dá é que a igreja ensaiou por séculos, para que sua aparição para quem chega fosse algo dramático, como as cortinas de uma grande casa de ópera se abrindo para a diva.


Me alojei no quarto. Um quarto antigo, com chão de tábuas de madeira nobre que rangem ao serem pisadas, uma cama confortável, teto baixo e uma pequena janela de madeira.


Lá existem várias “alas” de quartos, sendo que algumas, reformadas depois do incêndio, mantém os quartos onde ficavam os alunos. Há também a ala dos padres e a casa onde ficavam as serviçais da época.


Assim como previ, o lugar estava deserto, somente um funcionário aqui ou ali. O silêncio é sempre absoluto. É uma regra do lugar manter o silêncio ou falar baixo.

Não há sinal de celular. A única forma de comunicação é um telefone público velho localizado próximo à recepção. Mas nesse dia – e nos próximos – ele não funcionaria. Uma tempestade havia danificado a linha em algum lugar. Sem telefone, internet e, vez ou outra, sem luz, eu estava incomunicável, isolado do mundo, quase numa viajem no tempo.

Fui almoçar. Lá ainda existe o grande refeitório onde alunos e padres faziam suas refeições. Ao subir a escadaria de madeira você consegue imaginar todos aqueles jovens do passado ali, como uma versão tupiniquim de Harry Potter. Enormes e antigos quadros de autores renomados estão pendurados nas paredes, um deles um retrato do misterioso Irmão Lourenço.


A comida no fogão à lenha é deliciosamente mineira e bem feita. E naquele enorme salão, assim como seria nos próximos dias, eu almoçava sozinho, ou, às vezes com uma ou duas outras pessoas por ali.


Aliás, sozinho, nunca, pois todos os dias, no mesmo horário, um pássaro vinha me visitar, não pela amizade, mas pelos grãos de arroz que caíam na mesa. Eu sempre me sentava à mesa localizada ao lado de uma grande janela de madeira. O tico-tico primeiro pousava na janela e me encarava por alguns minutos, até pular para mesa e então compartilhar a refeição comigo.

Meu companheiro de refeições

Fui então ao museu e biblioteca, que fica no prédio incendiado. Foi reformado, mas nas paredes de pedra ainda pode-se ver as marcas do fogo, e metade da edificação estava em ruínas. Lá é possível encontrar objetos e utensílios usados desde os primórdios do mosteiro. Há também as camas onde o Imperador D. Pedro II e sua consorte dormiram ao visitar o colégio. E lembre-se que eu falei que estava praticamente sozinho lá, portanto, essas visitas eram mais mágicas do que possa parecer. Somente eu e a história.

Subindo as escadarias do museu encontra-se a biblioteca. Para amantes de livros antigos como eu, é o paraíso.


Lá conheci as bibliotecárias Vera e Kelly, responsáveis por manter aquele tesouro. E que tesouro! Livros desde o século XV até aos produzidos em pele, pelos padres do santuário.


Após explicar o meu propósito ali, me foi permitido então folhear alguns deles. Me deram um par de luvas e um suporte especial. Eu me sentia como uma criança em uma loja de brinquedos.


Segurar um livro de 300 anos de idade é como carregar três séculos de história em suas mãos. Três séculos de pessoas que o leram, que o seguraram, que o escreveram. E, assim, por menor e mais leve que seja o livro, ele pesa bastante em seus braços.

Segurar um livro de 300 anos de idade é como carregar três séculos de história em suas mãos

No entanto, o livro que mais me chamou a atenção, não era tão antigo assim, mas muito significativo. Era uma obra política que continha algumas críticas ao governo de D. Pedro II. O que isso tem de especial? Em sua visita ao Caraça, o imperador leu esse livro e fez anotações nas páginas, como respostas às críticas. Para quem? Para ninguém; ou para algum discurso futuro; ou para a história. Mas ele tinha essa mania de anotar respostas para as críticas nos livros. E ele lia bastante. Era um conhecido admirador e incentivador das artes e da ciência.

Pouco depois chega na biblioteca o padre Denilson. Pessoa simpática e divertida com a qual criei amizade e mantinha conversas sobre religião e literatura em alguns fins de tarde.


Já estava entardecendo e eu continuaria minha pesquisa na biblioteca em algum outro momento. Era hora do jantar, e lá ia eu para o refeitório do Harry da Silva, ou Zé Potter (escolham o melhor nome para a versão tupiniquim).


Após o jantar, o padre, mesmo sabendo que eu era ateu, me convida para a missa. E eu estava em território religioso por minha livre vontade, portanto “entre no clima”. Eu sempre entro no clima de onde estou, não só por respeito aos anfitriões, como também para absorver tudo o que o lugar representa e toda a sua história, e é claro que fui à missa.


No caraça há missa todos os dias, independente se há fiéis ou não, e eu achei aquilo fantástico. Naquela noite a missa foi quase particular, onde numa grande e bela igreja estavam sentados somente eu, uma beata e um padre, enquanto outro padre fazia a missa – numa igreja tão geograficamente inacessível, já era de se esperar isso. Que cena surreal. E o mais interessante: parece que cada vez mais os padres têm abandonado aquela missa cheia de superstições e se voltado para a filosofia e conselhos cotidianos. É interessante, principalmente para cidades pequenas sem muito acesso à informação.

A igreja também tem suas peculiaridades. No altar, dentro de um “aquário” de vidro, está o corpo mumificado de São Pio Mártir, soldado romano e mártir cristão. Essa relíquia foi doada ao Caraça pelo Vaticano em 1797. O corpo inteiro está revestido de cera, menos as unhas e dentes, que podem ser vistos em sua forma original. Ao lado um cálice com o sangue do santo misturado com areia.


Essa relíquia, pode amedrontrar alguns. Várias coisas no Caraça causam calafrios: as catacumbas, os corredores sombrios, as fantasmagóricas “passagens secretas” e escuros porões e adegas… principalmente a noite, em um dia sem turistas. Que tal vir sozinho por esse corredor abaixo para ir dormir?

Após a missa acontece um espetáculo que não se vê em qualquer lugar. O padre coloca carne em uma bandeija e na frente das portas da igreja, bate a bandeija no chão e chama “Guará, Guará”. Em seguida vários minutos de silêncio profundo. Até que, do meio da mata mais abaixo, começam a surgir figuras peculiares: uma matilha de lobos-guará vem, como em quase todas as noites, receber o presente do padre.


Quando vemos lobos-guará em fotos, por serem muito esbeltos, acabamos por não perceber o quão grandes eles são. É uma experiência fantástica ver aquilo. Não é um zoológico e nem um circo, é uma família de animais selvagens que vem, por vontade própria, comer o que lhes é oferecido e, em troca, deixarem-se fotografar. E isso acontece em quase todas as noites desde muitos anos atrás.

Só o Caraça vale toda a viagem à Minas Gerais D. Pedro II
 

Hora de dormir. Lá se dorme cedo e se acorda cedo. Ao voltar para meu quarto, um silêncio absoluto toma conta da região. Nenhum som humano. E algo estranho também que percebi, nem mesmo aviões passam pela região. Há quanto tempo eu não tinha essa sensação. Na escuridão, num lugar tão antigo e com todo aquele silêncio, nem precisa ser supersticioso para entrar em um terror sem precedentes. Mas não foi o caso dessa vez, tudo o que eu tinha era paz.

 

Cinco horas da manhã. Foi o horário que despertei naturalmente depois de ter dormido uma das melhores noites da minha vida. Coloquei um pesado casaco para suportar o frio congelante da manhã e saí para uma pequena caminhada. Por volta das 5:30 os primeiros sons humanos podem ser ouvidos da cozinha, onde o café era preparado. Às seis horas o café é servido em um outro refeitório, que lembrava uma senzala das cidades históricas e que parece ter funcionado como refeitório dos serviçais da época.

Janela do meu quarto

Minha programação para todos os dias era, após o café da manha, iniciar uma das trilhas para explorar a região e registrar lugares citados nas histórias e lendas, que possuía picos, cachoeiras e muita história. Porém, cada trilha era uma longínqua e, no meu caso, solitária e perigosa aventura; voltar para o almoço, passar a tarde realizando pesquisas, jantar, assistir a missa, ver os lobos, voltar para o quarto, escrever e então dormir para começar tudo de novo. Eu não gosto de rotina, mas aquela rotina eu sentia prazer em seguir.

Cada trilha era uma longínqua e, no meu caso, solitária e perigosa aventura

No primeiro dia comecei a caminhada para seguir a trilha até o cruzeiro. Enquanto saía da entrada do colégio, vi a pedra que, quando pela primeira vez fui ao caraça, tomei um escorregão e, ao levantar, vi que havia uma coroa talhada nela. Pesquisando depois descobri que naquela mesma pedra escorregou D. Pedro II. Deveria eu talhar o brasão de Löwenttur ali também? Continuei minha caminhada até o Cruzeiro, local alto, onde uma trilha leva até um rochedo difícil de subir. De lá se tem uma visão deslumbrante da região.

Eu e o fim do mundo

Há algo de especial em estar sozinho em lugares assim. É como se tudo dependesse só de você. Não há governo, não há polícia e não mais ninguém para ajudar ou atrapalhar. Você está só. E isso é somente um pequeno deslumbre do que várias pessoas no mundo fazem de forma mais radical, se aventurando por dias, sozinhas, mata a dentro, por esporte ou por azar.


Continuei a trilha por mais alguns quilômetros para chegar a cachoeira, mas o horário me fez voltar.

 

Após o almoço voltei para a biblioteca e fiz um pedido que as bibliotecárias acharam estranho. Pedi para ver os livros de visitas de 15 anos atrás. E não é que ele ainda existia? Me levaram para um casebre escuro, onde vários arquivos e outros documentos antigos se encontravam. Lá mexi até encontrar os livros dos anos “suspeitos”.


Levei os livros de volta para a biblioteca e passei um bom tempo folheando até que voilá!

O infame, porém ótimo, dia do ano de 1997 em que eu, minha namorada (que por algum motivo anotou o ano de 1996) e mais um casal de amigos matamos aula para ir ao Caraça, tendo até que trocar um legítimo canivete suíço por uma viagem de táxi de Santa Bárbara até ao colégio do Caraça (já que não há ônibus até lá e nosso dinheiro estava no fim) — e o pior foi ter que tentar convencer o motorista de que aquele canivete dava para pagar umas cinco viagens daquela e ele não acreditar e dizer que estava fazendo um favor. Mas isso é outra história.

 

Uma boa conversa com um velho padre, janta, missa, lobos – que dessa vez não vieram, talvez por causa da chuva – e então hora de escrever. O silêncio de sempre da noite, com o quarto escuro e a luz do notebook com uma página em branco iluminando meu rosto e meus dedos parados sobre o teclado. Nada. Nem uma palavra. Fecho o notebook e vou dormir.

 

Minha próxima aventura matinal foi uma trilha que leva a uma medonha gruta.

Depois de um certo tempo de caminhada, começa uma leve chuva que me faz apressar o passo. De repente, no meio do nada, surge uma pequena e antiquíssima igreja, com ruínas de um cenáculo ao lado. Se já não faltava cenário para filmes de terror no Caraça, aquilo era para completar qualquer saga.

Cenáculo e Capela

Ali a chuva piora. Mas piora ao ponto de se achar que o mundo vai acabar. Está vendo aquela portinhola lateral? Foi meu abrigo pela próxima hora, já que a igreja estava trancada. Assim que a tempestade deu lugar a uma chuva mais leve, comecei o caminho de volta. A gruta ficaria para o próximo dia.

No caminho de volta, o que antes era uma trilha, tinha virado um rio — sem exageros. Tive que caminhar pela mata lateral, com um escorregão atrás do outro, enxarcado e já cheio de cortes pelos galhos.


Chegando de volta ao colégio, parecendo alguém que voltou da guerra, me sentei em um banco e então percebi o quão arriscadas eram essas minhas “aventuras”. Por mais que boa parte fossem trilhas fáceis ou médias (pois o mau tempo me impedia de subir ao pico da Carapuça, meu principal objetivo), havia um “porém” que pode transformar qualquer trilha segura em um perigo iminente. E nem estou falando dos temporais. Trata-se do fato de eu estar sozinho, num lugar sem turistas e incomunicável. Cair e quebrar uma perna, desmaiar ou ser picado por uma cobra — e lá é garantidamente uma cobra a cada cem metros, sem erro — não teria como pedir socorro e poderia apodrecer ali numa infame morte.


Resolvi então tomar algumas medidas de “backup”. Sempre antes de sair, eu avisava para um funcionário qual trilha eu iria seguir. E se eu não aparecesse até determinado horário, era porque algo aconteceu e eu provavelmente estaria precisando de socorro. Assim eu cancelava minha reserva nas catacumbas.

E pergunte se escrevi algo aquela noite? Nada. A página em branco continuava olhando para minha cara até eu ir dormir.

 

Com o passar dos dias, e com acontecimentos como aquele, eu percebia a dura verdade: eu estava só. Mesmo com alguns poucos padres e funcionários aqui ou ali que até o por do sol podiam ser vistos e ouvidos, eu estava só. Ainda mais que boa parte do dia eu sempre estava em locais onde literalmente não havia ninguém mais, nem se eu quisesse. Não tinha família, amigos nem ninguém para se preocupar comigo ou para eu me preocupar. Percebi o que era solidão, mesmo que só por um instante.


A solidão faz bem ou pode matar. Tudo depende de como você lida com você mesmo, e por quanto tempo. Ao mesmo tempo que a solidão causa uma sensação de abandono, ela te coloca mais em contato com você mesmo e traz uma sensação de liberdade e autossuficiência, principalmente quando é a natureza sua única companhia.

 

Eu já havia pesquisado bastante. Horas e horas na biblioteca ou no quarto com os livros que me foram emprestados me deixaram um expert sobre o Caraça. Eu havia mergulhado na história do lugar ao mesmo tempo que andava diariamente pelas mesmas construções ou cenários naturais citados nos livros e lendas. É uma sensação impagável.


Impagável também foi conhecer, certa noite um visitante ilustre. Trata-se do Sr. Marinho, um ex-aluno do Caraça. Ele e sua esposa, muito simpáticos, dedicaram um bom tempo a me contar causos e explicar certas dúvidas. Me levaram então à Sala do Memorial, onde o Sr. Marinho me mostrou uma foto dele ainda criança, na banda do colégio.

Sr. Marinho ao lado de sua foto no colégio
 

Estava chegando o fim da minha “expedição”. Ainda passaria mais um dia e uma noite lá, mas como era o fim de semana e alguns turistas já perambulavam para lá e para cá, dei por encerrada a missão e passaria o último dia conversando e relaxando, como um turista. A visão do turista no Caraça é superficial e deixa passar muita coisa, deixando as duas opções de turismo mais comuns ali como a do turismo religioso e o eco-turismo. Portanto se um dia você for visitar o Caraça, estude antes a história, você vai se maravilhar e “viajar” muito mais.


Quanto ao texto, saí de lá sem nenhuma linha escrita, mas absorvi e aprendi tanta coisa, que os frutos serão muitos. Dei por cumprida a missão, voltei com a inspiração que precisava e muito mais.

A partir de agora, começam a surgir os frutos de muita pesquisa depois de 2 anos. Um livro, um mini-documentário no Escriba Cafe, e muitos artigos.Portanto encontrei o que fui buscar no Caraça e, por experiência, afirmo: se algo está coçando muito em você, não hesite e vá.


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