O “quarto poder”. Assim foi apelidada a imprensa. Com toda a ética pregada nos cursos de formação e com toda a regulação, o jornalismo sempre teve o poder de manipular, justamente por causa da confiança que o afegão médio — povo, esse, que predomina entre os povos — depositava no que era dito na TV.
Ah, a TV. Sempre um templo de seriedade e única detentora da verdade. Era também responsável por atingir todos: ricos, pobres, letrados e analfabetos. Todos tinham ali sua principal — e, para a maioria, única — fonte de informação. Assim, o que diziam os jornais era a verdade. E, a partir do momento que você controla a informação, você controla tudo e todos.
Era muito poder nas mãos de poucos.
Mas, no cosmos, tudo tende a se balancear. É o que percebo. A internet e as redes sociais se tornaram, então, a principal fonte de informação, tirando o poder das mãos de um grupo e tornando a informação pública.
Hoje, a “verdade” não é mais exclusiva da imprensa. Nem a mentira.
Com toda a informação, verdadeira e falsa, perambulando livremente pelos aparelhos celulares, foi possível perceber mais facilmente como a mídia sempre trabalhou e como é usada como arma.
Hoje não existe mais um “jornal de confiança”. Existe o jornal ou o canal que defende o adversário e tem o canal que defende o meu lado político. E eu não posso confiar em nenhum dos dois, afinal, se ambos têm uma agenda política, não estão comprometidos com a verdade, e sim com seus objetivos e acordos.
Isso porque a imprensa é um negócio. Um negócio visa ao lucro, e não à virtude. Se um jornalista de boa alma consegue unir os dois — coisa rara —, irá, de certa forma, entregar conteúdo de qualidade para seus consumidores. Mas isso já não importa — e não faz diferença —, pois a imprensa em geral já deixou de ser vista como fonte de informação.
Note como, até mesmo nas guerras nos dias de hoje, os lados dependem e investem em manipulação da opinião pública para seus fins. Perceba como Israel x Hamas e Rússia x Ucrânia são usados como símbolos mundiais para dividir as famigeradas “direita” e “esquerda”.
O resultado: a imprensa perdeu seu poder a partir do momento em que perdeu a confiança do povo.
De acordo com o Digital News Report de 2025 da Reuters1, somente 4 em cada 10 brasileiros confiam em notícias. E, ainda de acordo com a pesquisa, o conteúdo online e as mídias sociais são hoje a principal fonte de informação dos brasileiros, com uma notória queda da TV e dos jornais. Esses dados, principalmente o da confiança, se repetem por todo o globo.
Hoje, a busca pela verdade, pela informação, apesar de extremamente difícil, permite ao homem comum encontrá-la, se assim o quiser. É um trabalho de garimpo em que, dentro do vasto rio de informações, aquele que garimpar acaba encontrando pedaços da verdade.
E assim vemos hoje uma frustrada tentativa de “regular as redes”. É a suposta vontade dos governos de poupar o povo de ter que “garimpar” a verdade e fazer esse trabalho por ele, o que, em hipótese alguma, tem como terminar bem, mesmo que seja feito com a melhor das intenções (o que desconfio muito). Aquele que regular as redes tomará de volta a exclusividade da informação e o poder de manipulação. E é preciso nos atentarmos a que não é preciso mentir para manipular. Escolhendo qual verdade será entregue ao povo, é possível controlar uma população sem falar uma mentira sequer.
O jornalismo morreu. E agora estão brigando por sua herança.
Digital News Report 2025, Reuters. Acesse em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2025
Concordo muito. Hoje quando procuro alguma informação, preciso pegar pelo menos umas três fontes, considerar o viés de cada, cruzar e tirar minhas próprias conclusões.
A verdadeira intenção da regulação das redes, está na cara mas poucos querem ver. Sim, o jornalismo está morto.