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167 itens encontrados para ""

  • Uniformes da SS e cena de Hamlet

    Curiosidades sobre os uniformes da SS e também sobre a cena mais popularizada de Hamlet. Ouça nesse Hall:

  • William Shakespeare

    A enigmática história de um dos maiores autores de todos os tempos. Direção, produção e edição: Christian Gurtner Roteiro e Pesquisa: Christian Gurtner Trilha Sonora Misere - Trinity College O restante da trilha sonora é via Epidemic. Bibliografia DASH, Mike. William Shakespeare, Gangster. Smithsonian Magazine. Disponível em: . Acesso em: 12 Mar. 2021. HISTORY.COM EDITORS. William Shakespeare. HISTORY. Disponível em: . Acesso em: 11 Mar. 2021. THE BRITISH LIBRARY. William Shakespeare. The British Library, 2021. Disponível em: . Acesso em: 12 Mar. 2021. William Shakespeare: The life and legacy of England’s bard. BBC Teach. Disponível em: . Acesso em: 22 Mar. 2021. Transcrição do episódio O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas que entram nele e saem. Cada um tem no seu tempo muitos papéis: sete atos, sete idades. Na primeira, nos braços da ama grita e baba o infante. Depois o escolar lamuriento, com a mochila, de rosto matinal, como serpente se arrasta para a escola, a contragosto. Em seguida vem o amante, de fornalha acesa, celebrando em balada dolorida, as sobrancelhas da mulher amada. A seguir estadeia-se o soldado, cheio de juras feitas sem propósito, com barba de leopardo, mui zeloso nos pontos de honra, a questionar sem causa, que a falaz glória busca até mesmo na boca dos canhões. Segue-se o juiz, com ventre bem forrado de cevados capões, olhar severo, barba cuidada, impando de setenças e de casos da prática; desta arte seu papel representa. A sexta idade em mangas pantalonas, tremelica, óculos no nariz, bolsa de lado, calças da mocidade bem poupadas, mundo amplo em demasia para as pernas tão mirradas; a voz viril e forte, que ao falsete infantil voltou de novo, cheia e sopra ao cantar. A última cena, remete desta história aventurosa, é mero olvido, uma segunda infância, falha de vista, dentes, gosto e tudo. Trecho da peça As you like it - Ato II, Cena 7 Primeiro ato. O Nascimento. Na Inglaterra, numa cidade chamada Stratford-upon-Avon vivia um homem de nome John Shakespeare,ele era um mercador que tinha negócios em agricultura, marcenaria, comércio e até empréstimo de dinheiro - o que era proibido a cristãos da época. Entre altos e baixos na sua vida financeira, se casou com Mary Arden, filha de um senhorio aristocrata. Tiveram oito filhos, dentre eles, William, que, em 26 de abril de 1564 foi batizado, datando assim seu nascimento, provavelmente três dias antes. Não há nenhum registro da vida escolar de William, mas pressupõe-se que ele frequentou a escola local da pequena cidade de Stradford-upon-Avon, onde estudou gramática, latim e os clássicos. Soneto CXXX Os olhos de minha amada não são como o sol; Seus lábios são menos rubros que o coral; Se a neve é branca, seus seios são escuros; Se os cabelos são de ouro, negros fios cobrem-lhe a cabeça. Já vi rosas adamascadas, vermelhas e brancas, Mas jamais vi essas cores em seu rosto; E alguns perfumes me dão mais prazer Do que o hálito da minha amada. Amo-a quando ela fala, embora eu bem saiba Que a música tenha um som muito mais agradável. Confesso nunca ter visto uma deusa andar – Mas minha amada, quando caminha, pisa no chão. E assim, eu juro, minha amada é tão rara Que torna falsa toda e qualquer comparação. Segundo Ato O Casamento Aos dezoito anos, William Shakespeare se casa com Anne Hathaway, uma mulher oito anos mais velha. O casamento foi arranjando, provavelmente, por causa da gravidez de Anne, que após sete meses deu a luz a Susanna. Algum tempo depois, em 1585, nascem os gêmeos Hamnet e Judith. O fato é que logo após o nascimento dos gêmeos, biograficamente falando, Shakespeare desaparece. Não há qualquer registro, nota, documento, carta ou anotação sobre ele, até que em 1592, uma crítica, em um panfleto, de autoria de Robert Greene, acusa William de ser um escritor emergente sem talento para tal. E isso mostra que a essa altura o dramaturgo já tinha feito seu nome no teatro londrino. Mas o que fez Shakespeare nos anos que ficaram conhecidos como anos perdidos? Uma ou outra evidência sugere que ele saiu de sua cidade natal após caçar veados de forma ilegal nas terras de um político local. Depois disso muitos especulam que ele teria trabalhado como professor, estudado ou simplesmente viajado pela Europa continental, o que explicaria o seu inexplicável conhecimento explicitado em política externa, história e autoridades de diversas partes. Mas o fato, é que ninguém sabe o que ele realmente fez nesses anos. Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre Em nosso espírito sofrer pedras e flechas Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais-herança do homem: Morrer para dormir… é uma consumação Que bem merece e desejamos com fervor. Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo: Pois quando livres do tumulto da existência, No repouso da morte o sonho que tenhamos Deve fazer-nos hesitar: eis a suspeita Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios. Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo, O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, Toda a lancinação do mal-prezado amor, A insolência oficial, as dilações da lei, Os doestos que dos nulos têm de suportar O mérito paciente, quem o sofreria, Quando alcançasse a mais perfeita quitação Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos, Gemendo e suando sob a vida fatigante, Se o receio de alguma coisa após a morte, –Essa região desconhecida cujas raias Jamais viajante algum atravessou de volta – Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos? O pensamento assim nos acovarda, e assim É que se cobre a tez normal da decisão Com o tom pálido e enfermo da melancolia; Hamlet - Ato III, Cena 1 - de William Shakespeare Terceiro ato A carreira Em 1592 William Shakespeare já tinha escrito várias peças e começava a trabalhar também como ator. A essa altura já tinha produzido as peças Os dois cavalheiros de Verona, A Comédia dos Erros, Titus Andronicus e as peças históricas Henrique VI e Ricardo III. William estava afiliado a vários teatros e companhias. Em 1594 começou a produzir e atuar junto com a trupe Lord Chamberlain´s Men, da qual faria parte por mais de uma década. Em 1595 morre o único filho homem de Shakespeare, Hamnet, que muitos historiadores defendem ter se chamado Hamlet, porém tendo o nome grafado de forma errada, o que não era incomum na época. O próprio William teve seu nome e sobrenome escrito de várias formas diferentes. Mas a questão é que muito se especula sobre uma uma das principais peças de Shakespeare ter sido escrita em homenagem ao seu filho: Hamlet. Foi nessa época também que Shakespeare escreveu várias outras de suas famosas peças, como Romeu e Julieta, Sonho de uma noite de verão, Macbeth e Rei Lear. Boa parte dessas peças foram montadas no teatro que o grupo Lord Chamberlain´s Men ergueu: o Globe Theater, que seria um enorme sucesso em Londres por vários anos. Shakespeare tinha ficado próspero com suas peças e possuía 12.5% do The Globe. Além disso havia comprado a New Place, uma das maiores casas de sua cidade natal e investindo em terras, evidenciando o sucesso do autor. Em 1603, quando James I se colocou como patrono da trupe, a Lord Chamberlain´s Men mudou de nome para The King´s Men, ou, em português, Os Homens do Rei. Além de peças, romances e poemas também foram escritos pelo bardo. Em 1609 é publicada uma coletânea com os 154 sonetos de Shakespeare, que muitos estudiosos afirmam provavelmente terem sido publicados sem o consentimento do autor, que os tinha escrito para seu círculo mais íntimo. Com todos esses empreendimentos, William Shakespeare passa pouco tempo com a família, passando mais tempo em Londres e retornando esporadicamente para sua cidade natal. Soneto XVIII Se te comparo a um dia de verão És por certo mais bela e mais amena O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno. Às vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes desmaia com frieza; O que é belo declina num só dia, Na eterna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos vivos te farão viver. Quarto Ato A morte Pouco depois de escrever a peça “Os dois nobres parentes” em colaboração com John Fletcher, e que provavelmente foi sua última peça, William Shakespeare morre, coincidentemente, no mesmo dia de seu provável nascimento, em 23 de abril de 1616. Deixou todos os seus bens e propriedades para a filha e para sua esposa, curiosamente, deixou a sua segunda melhor cama. Em seu túmulo, coberto por uma pedra, está escrito o que provavelmente é de sua própria autoria: “Meu bom amigo, pelo amor de Jesus, Evita-te de cavar a poeira aqui enclausurada. Bendito seja aquele que poupar estas pedras, E amaldiçoado aquele que mover os meus ossos” Sete anos depois uma coletânea com sua obra foi publicada, sendo considerada a mais completa, que foi compilada pelos seus amigos John Heminge e Henry Condell e as peças do bardo continuaram sendo apresentadas. Mas em 1644, um poderoso grupo de puritanos, fecha e demole o Globe Theater, proibindo também qualquer manifestação teatral na cidade. No entanto, a obra de Shakespeare se tornaria imortal. Além de sua enorme contribuição para a língua inglesa, a qual introduziu milhares de novas palavras e frases, tornou-se o mais influente dramaturgo do mundo. Sua obra foi traduzida para quase todos os idiomas. Suas peças foram montadas e apresentadas por séculos por todo o planeta até hoje, nos palcos, TV e cinema. Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, e depois não é mais ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa. - Trecho de MacBeth Quinto Ato A controvérsia Há porém uma pergunta que não se cala. Quem realmente foi William Shakespeare? Tudo o que sabemos, de mais concreto, é que um homem chamado William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon em 1564, se casou e teve filhos nessa mesma cidade. Sabemos que um homem com esse mesmo nome foi para Londres e se tornou um ator e que esse mesmo nome assinou sonetos, romances e algumas das mais belas peças teatrais já escritas. Sabemos também que seu nome aparece num obscuro caso judicial e também que essa pessoa voltou para sua cidade natal, fez um testamento e morreu em 1616. Isso é basicamente tudo o que sabemos de William Shakespeare. O resto é especulação e dedução baseadas em pesquisas ou comparações. Justamente por essa completa falta de informações históricas sobre uma pessoa tão importante, é que perguntas criaram teorias conspiratórias, como a de que Shakespeare, na verdade, fora usado como um espécie de laranja-autoral por uma ou mais pessoas que queriam publicar sua obra mas ficar no anonimato por questões políticas. Apesar de essa teoria ser bastante difundida, ela é refutata pela maioria dos estudiosos. No entanto, há uma linha sendo pesquisada de que Shakespeare foi um pouco mais barra pesada do que imaginamos. Há um documento com uma acusação contra William de ameaça de morte. Outras evidências também sugerem que ele possa ter usado de meios obscuros para subir na vida e alcançar o sucesso. Mas a única certeza que temos, é que obras foram assinadas pelo nome William Shakespeare. E essas obras influenciam até hoje a arte, a história e a vida de toda a humanidade. Seja ele quem for, conquistou o que muito poucos conseguem: a eternidade. Os trechos da obra de Shakespeare utilizados nesse episódio foram, na ordem, “O mundo é um palco”, da peça As you like it - ato 2, cena 7; Soneto 130, “Ser ou não ser” trecho de Hamlet, ato 3 - cena 1; Soneto XVIII; Amanhã, Amanhã, de Macbeth Ato V, cena 5; Sigam o Escriba Cafe no instagram. “Boa noite, boa noite. Toda despedida é dor. Tão doce, todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia” Sobre o testamento de Shakespeare, fica como bônus desse episódio essa curiosidade: ele deixou sua segunda melhor cama para a esposa. Pode parecer estranho, mas na verdade, camas eram móveis extremamente caros na época. E as pessoas usavam esse tipo de coisa para se exibirem. Assim a melhor cama, provavelmente ficava numa parte da casa onde era vista pelas visitas e também usada pelas mesmas, como fora de a família mostrar que era próspera. Assim a segunda melhor cama era a que o casal usava de fato. E mesmo com essa modesta herança, pela lei inglesa da época, a viúva tinha direito a um terço da fortuna, independente do que estava escrito no testamento. Porém, uma coisa é realmente anormal. Na época era comum os maridos aproveitarem o testamento explicitar algum carinho para as esposas, o que não aconteceu no testamento de Shakespeare. O por quê, é provável que jamais saibamos.

  • Unity Mitford - a stalker de Hitler

    Sim. Hitler também tinha stalkers. Conheça essa nesse Hall:

  • Será que temos, mesmo, o livre arbítrio?

    Dentre tudo que se junta para tentar dar sentido à vida, à sociedade e até mesmo à religião, o livre arbítrio talvez seja um dos pilares da resposta. Mas, e se...

  • A Idade das Trevas Digital

    Na sala da casa no meio do bosque, a estante cheia de livros era iluminada pela lareira - que espantava também o frio do outono. Os livros eram os mais variados, desde romances de Agatha Christie até tratados filosóficos. Mas além dos livros, havia também cartas trocadas entre o velho e parentes e amigos do passado e fotos. Eram fotos que remontavam três gerações, de 1900, até o ano de 2010.

  • Pompeia

    Breve história de Pompeia e Herculano - e o trágico fim que as fez desaparecer por séculos - e a filosofia soterrada com elas. Direção, produção e edição: Christian Gurtner Roteiro e Pesquisa: Christian Gurtner Bond, Sarah. “August 24, 79: An Hour-By-Hour Account Of Vesuvius’ Eruption On Its 1,937th Anniversary.” Forbes, 24 Aug. 2016, www.forbes.com/sites/drsarahbond/2016/08/24/august-24-79-an-hour-by-hour-account-of-vesuvius-eruption-on-the-1937th-anniversary/?sh=5c3a56945137. Accessed 28 Dec. 2020. Carta a Meneceu (Sobre a Felicidade) 1 -O Estudo Da Filosofia. “Did Vesuvius Vaporize Its Victims? Get the Facts.” Science, 16 Oct. 2018, www.nationalgeographic.com/science/2018/10/news-pompeii-deaths-vesuvius-vaporized-skulls-exploded-chemistry/. Accessed 7 Dec. 2020. Lynch, Patrick. “7 Things You Didn’t Know About the Tragic Town of Pompeii and the Volcanic Eruption That Destroyed It.” HistoryCollection.com, HistoryCollection.com, 7 Aug. 2017, historycollection.com/7-things-didnt-know-tragic-town-pompeii-volcanic-eruption-destroyed/2/. Accessed 15 Dec. 2020. “The Destruction of Pompeii, 79 AD.” Eyewitnesstohistory.com, 2020, www.eyewitnesstohistory.com/pompeii.htm. Accessed 22 Dec. 2020. Transcrição do episódio Carta de Plínio, o jovem, para Tácito. “Meu tio estava em Misenum, no comando ativo da frota. Em 24 de agosto, no início da tarde, minha mãe chamou sua atenção para uma nuvem de tamanho e aparência incomuns. Ele calçou os sapatos e subiu até um local que lhe desse a melhor visão do fenômeno. Não estava claro a essa distância de qual montanha a nuvem estava subindo… mais tarde descobriríamos que era o Vesúvio.” Pompeia, 23 de agosto do ano 79 O sol nascia e as ruas da cidade costeira começavam a se movimentar. Como somente algumas casas possuiam um sistema de ágúa, a maioria dos vinte mil habitantes tinha que buscar o precioso líquido logo cedo nas fontes públicas. Nas casas pão e queijo eram servidos no café da manhã e nas ruas as barbearias já estavam cheias. As barbearias eram também locais para conversar e relaxar. Todas as demais lojas do comércio da cidade também começavam a funcionar. Todos se preparavam para mais um dia de trabalho - ou de lazer, já que a cidade era um conhecido ponto turístico e refúgio de ricas famílias romanas que mantinham propriedades ali para passar as férias. Durante a tarde as ruas voltavam a se encher. No fórum as pessoas iam e vinham e muitos discutiam assuntos relacionados a cidade. Os bordéis também estavam movimentados. O mais famoso deles, chamado Lupanar, era decorado com mosaicos e pinturas eróticas de várias cenas de sexo. Havia também nesse bordel um marketing de vanguarda: os clientes eram pedidos a deixar uma avaliação sobre o serviço prestado e a performance das prostitutas. E assim podia-se ler inúmeras avaliações nas paredes designadas. No meio da tarde às vezes havia combates de gladiadores no anfiteatro, mas após uma grande e violentíssima briga de torcidas rivais, acabou sendo proibido por algum tempo. As Termas também estavam movimentadas naquele horário. As termas eram casas de banho que os romanos usavam para se lavar, mas também se exercitar, relaxar e fechar negócios ou fazer política. O por do sol estava próximo. Aquela luz do fim dia deixava a baía de nápoles muito bonita. O mar e a grande montanha a noroeste que chamavam de Vesúvio, ficavam particularmente belos. Não havia muito o que fazer a noite e, talvez as ruas escuras não fossem muito seguras. As pessoas voltavam para casa para jantarem azeitonas, pães, bolos e, aqueles que podiam pagar, preparavam também carnes. Prontos para descansar de mais um dia, não se importaram com um leve tremor de terra que passou pela cidade, assim como já tinha acontecido outras vezes nos últimos dias. Era hora de dormir. Ao raiar do dia, Herculano, uma cidade localizada do outro lado do Vesúvio, começava também o seu dia. A rotina era bem parecida coma de Pompéia. Herculano era também uma bela cidade litorânea muito frequentada por romanos ricos. Nas belas propriedades da cidade, vinho era servido nos jardins enquanto as pessoas discutiam sobre filosofia. Naquela época o eruditismo era sinal de status. As casas possuíam ricas bibliotecas e nas festas e banquetes as discussões filóficas duravam horas. Numa das casas, o proprietário tinha em sua biblioteca uma interessante obra chamada De rerum natura, ou A Natureza Das Coisas. Esse poema didático era dividido em seis volumes. A palavra volume vem do latim volumen, que se diz de algo que foi enrolado. E assim era os livros da época: rolos de papiro. O poema foi escrito filósofo Tito Lucrécio Caro, e coloca uma realidade mais racional sobre o homem, a natureza e um universo sem deuses. Expõe a filosofia de Epicuro, que defendia a tranquilidade espiritual e a liberdade humana. Epicuro defendia o atomismo de Demócrito, que foi largamente exposto por Lucrécio em sua obra. A importância filosófica e científica dessa obra seria claramente exposta num futuro longínquo. E naquele dia, pode ser até que alguns visitantes dessa casa, bebiam vinho no jardim enquanto debatiam a filosofia de Epicuro e a obra de Lucrécio e viram uma estranha nuvem de fumaça se erguer no horizonte. Eles não sabiam, mas Pompeia já estava sendo varrida do mapa, e em 12 horas seria a vez de Herculano. Plinio, o Jovem, estava na cidade de Misenum, que ficava a noroeste na baía de Nápoles, e tinha uma boa visão do Vesúvio. Ele estava hospedado na casa de seu tio, Plínio, o Velho, e testemunhou, todos os acontecimentos daquele trágico dia 24 de agosto de 79 e os registrou em duas cartas enviadas ao historiador Tácito. Ele escreveu: “Meu tio estava em Miceno e enquanto comandante dirigia pessoalmente uma frota. No dia 24 de agosto, por volta de meio dia, minha mãe lhe mostra o surgimento de uma nuvem de inusitado aspecto e tamanho. Saía de casa quando recebeu uma mensagem de Rectina, esposa de Tasco, aterrorizada com o perigo iminente –pois sua villa estava situada aos pés do monte e não havia fuga possível senão em barcos–: rogava que a salvasse de tamanho risco. O que começara com um espírito investigador afronta com um magnânimo. Faz sair um frota, e ele mesmo embarca para prestar auxílio não somente à Rectina, mas a muitos –pois era muito frequentada a orla. Já caía cinza sobre os barcos, mais quente e mais densa quanto mais se aproximavam; já também pedras-pomes negras e calcinadas e lascadas pelo fogo; já um repentino baixio, e as praias estavam inacessíveis pelo derruimento do monte.” Plínio, o velho, perece por consequência de sua tentativa de salvar o máximo de pessoas que conseguisse. As cartas de Plínio, o Jovem, contam também, em detalhes como foi toda a operção de resgate que seu tio montou, bem como as informações que chegavam até ele e também como os habitantes de Misenum tentaram se proteger para não se vitimarem também. Nas primeiras horas de atividade do Vesúvio, cinzas e pedras foram jogadas sobre Pompeia, o que fez com que os moradores se protegessem em suas casas. Mas o peso do acúmulo de cinzas começou a fazer tetos desabarem, causando as primeiras vítimas. Em pânico, começaram a fugir, mas para a maioria, já era tarde demais. Várias pessoas foram esmagadas por pedras lançadas do vulção e o restante da população que não tinha conseguido fugir, foi surpreendida pela nuvem piroclástica, cujo calor os fez morrer quase instantaneamente evaporando o sangue e os fluidos cerebrais e quase literalmente explodindo suas cabeças. Mais de duas mil pessoas morreram. Ao amanhecer do dia seguinte, Pompeia já não existia mais. Estava embaixo de seis metros de cinza vulcânica e púmice e, alguns anos depois, a localização da cidade seria desconhecida, praticamente esquecida. Herculano não teve um fim muito diferente, porém, a população que tinha condições, teve mais tempo para abadonar a cidade. Aproximadamente 340 pessoas morreram ali, a maioria, soterrada. Pompeia só foi redescoberta no século XVIII, quando desastrosas escavações foram iniciadas em busca de obras de arte. No século XIX os métodos de escavação foram melhorados e mais organizados, preservando melhor a cidade. No século XIX, o primeiro grande diretor do sítio arqueológico de Pompeia, Giuseppe Fiorelli, ao se deparar com a grande quantidade de corpos que era encontrada, cria uma técnica simples mas genial para criar moldes dos corpos. O fato é que os corpos que vemos hoje em exposição, não são bem corpos. Quando os habitades de Pompeia foram mortos, o calor não foi suficiente para evaporar a carne, assim, cinzas vulcânicas os cobriram e, com o passar do tempo, seus corpos de decomporam, deixando somente ar e ossos dentro de um uma espécie de forma de seus corpos. A técnica de Giuseppe Fiorelli foi preencher esses espaços com gesso, gerando assim um molde perfeito dos corpos no momento da morte. E isso junto com as cartas de Plínio e toda a escavação, nos ajudou a conhecer a história de uma cidade que havia sido esquecida há quase dois milênios. Também soterrado em Herculano, estava aquela cópia de De Rerum Natura, de Lucrécio, que só seria redescoberta ali em 1981, junto com tantas outras obras, que a casa onde estava, passou a ser chamada pelos arqueólogos, como vila dos papiros. Porém, uma outra cópia de A Natureza das Coisas havia sido descoberta séculos antes. Em 1417, Poggio Bracciolini encontra em um mosteiro alemão uma cópia da obra de Lucrécio. A filosofia que a igreja por tanto tempo não mediu esforços para enterrar, fora então novamente exposta. Essa descoberta foi tão importante que pode ter influenciado na virada da civilização para a modernidade. ‌

  • Tempo - Leitura de Seneca

    Um pouco de filosofia com a visão de Sêneca sobre o tempo. Ouça nesse Hall:

  • Manuscritos perdidos

    Com pouquíssimas exceções, nenhum manuscrito da Grécia Antiga e de Roma chegou até nos. Tudo que temos são cópias, que na maioria das vezes provém de datas, culturas e até idiomas completamente diferentes do original. E mesmo assim essas cópias representam uma mínima porção das obras criadas na antiguidade, incluindo autores consagrados entre cientistas, historiadores, matemáticos, filósofos e políticos que provavelmente contribuíram de forma incrível para o conhecimento humano e que nós não fazemos ideia ou simplesmente só temos relatos ou críticas de outros autores sobre algumas dessas obras perdidas. E por que isso aconteceu? Vários motivos levaram essas obras ao desaparecimento: traças, fenômenos climáticos e ações humanas como guerras e fanatismo religioso. Além disso muito se foi também devido a algo que hoje temos como banal: o papel! Até não muito tempo atrás, o papel não existia. Tínhamos o papiro e peles de animais para produzir documentos. Esses itens eram de difícil fabricação e, dependendo da região, eram raros. Assim, muitos copistas em mosteiros acabavam raspando obras inteiras para poder reutilizar esses materiais para fins mais... cristãos. Então toda vez que você olhar para algo que já vê todo dia, que você pensa não ter nada de mais ou ser de pouco valor. Olhe de novo. Algo assim, como o papel, provavelmente salvou sua vida.

  • Alea Jacta Est

    Era 10 de janeiro do ano 49 antes da era cristã. Júlio César estava com suas tropas às margens do rio Rubicão, que tem esse nome por causa de sua cor avermelhada.

  • 4. A nova onda

    O fim da guerra. A fome. Nazistas foragidos e lendas em uma pequena cidade do oeste do Paraná. Essa é a nova onda de imigrantes. Acompanhe nesse quarto episódio da minissérie em podcast Ausländer. Joseph Mengele (ao centro) Ficha Técnica Direção, produção e narração: Christian Gurtner Pesquisa: Dr. Marcos Meinerz Roteiro: Guilherme Grazziotin Participação especial: Hartmut Rolf Gurtner Agradecimentos especiais: Sr. Jacob Curt Hoff, de Marechal Cândido Rondon e Iniciativa Condor pela autorização de uso da Das Brasilienlied Podcast criado em parceria com a Nordweg. Das Brasilienlied (Letra e tradução) 1. Wir treten jetzt die Reise, zum Land Brasilien an. Sei bei uns Herr, und weise, Ja mache selbst die Bahn. Sei bei uns auf dem Meere, mit gnadenreicher Hand, So kommen wir ganz sicher, in das Brasilienland. Estamos agora iniciando a viagem ao Brasil. Seja nosso mestre conosco e, sabiamente, sim, faça você mesmo o caminho. Esteja conosco no mar com uma mão graciosa É assim que definitivamente viremos para o Brasil. 2. Durch Gott sind wir berufen, sonst käm’s uns nie in Sinn. So glauben wir und wandern auf sein Geheiß dahin. Gott führt uns auf dem Meere mit seiner Vaterhand, So kommen wir ganz sicher in das Brasilienland. Somos chamados por Deus, caso contrário, nunca nos ocorreria. Portanto, acreditamos e caminhamos lá sob seu comando. Deus nos guia no mar com a mão de seu pai, É assim que definitivamente viremos para o Brasil. 3. Gott sprach zu Abraham: Geh aus von deinem Land Ins Land, das ich dir zeige durch meine starke Hand. Auch wir vertrauen feste auf Gott sein heilig Wort, So gehen wir von dannen jetzt nach Brasilien fort. Deus disse a Abraão: Sai da tua terra À terra que te mostrarei com a minha mão forte. Nós também confiamos em Deus, sua santa palavra, Então vamos de lá para o Brasil. 4. Wie oft haben wir gerufen zu Dir mein Gott uns Herr! So hat sich jetzt eröffnet ein Land, worinnen wir Auf deinen Wink hingehen durch Leitung deiner Hand Du wirst uns wohl versorgen in dem Brasilienland Quantas vezes temos chamado a Ti meu Deus e Senhor! Um país agora se abriu no qual estamos Vá até o seu signo, direcionando sua mão Você provavelmente irá fornecer para nós no Brasil 5. Gott schützt Brasiliens Kaiser, in seinem Lebenslauf. Und kröne ihn mit Segen, er nimmt uns willig auf. Er will uns auch beschützen, mit gnadenreicher Hand, So gehen wir mit Freuden in das Brasilienland. Deus, proteja o imperador do Brasil, em seu currículo. E o abençoes, ele nos aceitou de boa vontade. Ele quer nos proteger também, com uma mão graciosa, Por isso vamos para o Brasil com alegria. 6. Wie werden wir uns freuen, wenn diese Reis vollbracht! Hier sagen wir mit Freuden den Nachbarn „gute Nacht!“ Doch wünschen wir auch Segen, Gesundheit, Fried und Ruh, Und gehen in Gottes Namen Brasilier Lande zu. Como ficaremos felizes quando este arroz estiver pronto! Aqui temos o prazer de dizer “boa noite!” Aos nossos vizinhos. Mas também desejamos bênçãos, saúde, paz e sossego, E em nome de Deus eles vão para o Brasil. 7. Jetzt geht das Schiff ins Meere, bald ist es in dem Lauf So falten wir die Hände, zu Gott sehn wir hinauf; Er wolle uns beschützen mit seiner Vaterhand, so sind wir froh und fahren nach dem Brasilienland Agora o navio está indo para o mar, logo estará na corrida Assim, cruzamos nossas mãos, erguemos os olhos para Deus; Ele quer nos proteger com a mão de seu pai então estamos felizes e vamos para o Brasil 8. Nach vielen Wunsch und Sehnen, nach vielem Wunsch und Wort, Hör ich ein großer Jubel: ach was erblick ich dort? Ich sehe jetzt von ferne, das ich noch nie erkannt: Seid froh Ihr meine Brüder, ich seh Brasilienland. Depois de muitos desejos e anseios, depois de muitos desejos e palavras, Eu ouço uma grande ovação: oh o que eu vejo lá? Agora vejo de longe que nunca reconheci: Alegrai-vos meus irmãos, vejo o país Brasil. 9. Die Freudenthränen fließen, vom Aug auf unsern Schooß, Nach überstandenen Leiden, ist unsere Freude groß. Bald läuft das Schiff in Hafen, bald treten wir auf’s Land. Gott hat uns wohl begleitet, mit seiner Vaterhand. As lágrimas de alegria fluem de nossos olhos para o nosso colo, Depois de superar o sofrimento, nossa alegria é grande. Logo o navio estará no porto, logo estaremos em terra. Deus nos acompanhou, com a mão de seu pai. 10. Willkommen spricht der Kaiser, willkommen seid ihr mir. Ihr sollt Antheil bekommen an meines Landsrevier. Ich will euch wohl beschützen, mit gnadenreicher Hand, Ihr meine Unterthanen, in dem Brasilienland. Bem-vindo, diz o imperador, bem vindo a nossa terra Você terá uma parte em meu território. Eu quero te proteger, com uma mão graciosa, Vocês meus súditos no país do Brasil. 11. Ach majestät’scher Kaiser, zu Füßen fallen wir; Ja ja wir huldigen Treue, so lang wir leben hier. Gott höre unser Flehn, nimm unsere Seufzer auf, Was wir allhier geloben, Gott drück das Siegel drauf. Oh majestoso imperador, caímos aos nossos pés; Sim, sim, prestamos homenagem à lealdade enquanto vivermos aqui. Deus ouça nosso apelo, retome nossos suspiros O que juramos aqui, Deus coloque o selo sobre isso 12. So sind wir nun verbunden, in das Brasilienland. Ach Vater bleibe bei uns mit deiner Vaterhand. Versorge uns mit Nahrung, se bei uns in der Noth, Verlaß uns nicht in Leiden, verlaß uns nicht im Tod! Portanto, agora estamos conectados ao Brasil. Oh pai, fique conosco com a mão de seu pai. Dê-nos comida, esteja conosco quando precisar, Não nos deixe no sofrimento, não nos deixe na morte! #Imigração #Alemanha #Napoleão #História #Guerra

  • Os Romanov

    A história de uma das maiores e impressionantes dinastias Europeias Pedro, o Grande FICHA TÉCNICA Direção, produção e edição: Christian Gurtner Roteiro e Pesquisa: Christian Gurtner Patrocínio: Podcast A Virada Esse episódio foi possível graças ao apoio dos patronos e assinantes premium do Escriba Cafe Catarina, a Grande BIBLIOGRAFIA Montefiore, Simon. Os Romanov. 1st ed., Companhia das Letras, 2016. Lucy Worsley Serbian. “Empire Of The Tsars: Romanov Russia.” BBC, 22 July 2016. Os últimos Romanov que foram executados no porão TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO (As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los) Em breve…

  • Até que a morte nos separe

    Um pouco da história e reflexão sobre o casamento pelas diversas culturas.

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